A Mulher na Janela, entendendo a angustia do pânico e da agorafobia

21 de maio de 2021

 

Foto: Netflix / A Mulher na Janela / Divulgação.

O suspense “A Mulher na Janela” (2021) nos conta um pouco sobra a história de Anna Fox, uma mulher que tem enfrentado alguns problemas psicológicos. Ao que parece pelos primeiros momentos de filme, seu psicólogo está precisando fazer os atendimentos de Anna em seu domicílio, já que ela não está conseguindo sair de casa. Presa em casa, é questionada por seu psicólogo pela obsessão que começou a desenvolver em acompanhar a vida de seus vizinhos pela janela de sua casa. E é vendo o que se passa na casa dos Russell em uma noite que todo o mistério que tenta entender acontece.

Pelo que ficamos sabendo durante o filme, Anna trabalha há 15 anos como psicóloga infantil, mas no momento está tendo que lidar com seus próprios problemas. Está separada do esposo e da filha, em uma crise depressiva e ansiosa. Tenta lidar com a ausência de sua família através do abuso do uso de álcool, que acaba sendo misturado com os remédios psiquiátricos que toma. 

Apesar de saber que não é aconselhável misturar os remédios psiquiátricos e álcool, já que o álcool pode interferir nos efeitos da medicação, não se importa com o que vá acontecer, quer apenas anestesiar sua angústia. Quando tenta sair de casa, tem ataques de pânico só de pensar em colocar os pés do lado de fora. Sua dificuldade em interagir com o mundo do outro lado da porta é parte de seu quadro de agorafobia, que nada mais é do que o medo de se expor a situações que possam causar medo ou ansiedade, como sair de casa só, estar em espaços abertos ou fechados, ou estar em meio a uma multidão.

Seu psicólogo vê o interesse de Anna em vigiar a vida dos vizinhos como uma evolução em seu caso, já que é uma forma de expressar interesse no mundo que existe do outro lado de sua porta, o que poderia ser um primeiro passo para que ela criasse a coragem para colocar os pés fora de casa. Mas sair de casa para Anna é difícil. Por conta de seu quadro psicológico, está sempre em alerta. E o clima de suspense do filme traduz bem o estado de alerta de quem está passando pelo mesmo que ela. Anna perde a noção de tempo e espaço, está sempre preocupada com o que possa acontecer e acaba se fixando no que vê por sua janela.

O primeiro Russell que Anna tem contato é Ethan, um jovem de 15 anos que aparece meio amedrontado na porta de sua casa para dar uma vela. Anna vê nele sinais de convívio com um pai abusivo. Depois conhece a mãe de Ethan, que parece ser bem comunicativa e divertida. Por fim, conhece Alistair Russell, o pai da família, que vem falar com ela em sua casa de forma intimidadora para saber se ela está tendo contato com sua família. Com base no que conheceu e no que via por sua janela, Anna começa a criar suspeitas sobre o que acontece na casa daquela família e do perigo que alguns de seus membros possam estar correndo.

Sua fixação na família Russell a faz ter atitudes duvidosas, que fizeram os outros e até ela mesma questionar sua sanidade mental. Estaria ela ficando louca? É tudo culpa de estar longe de sua família? Os remédios podem estar fazendo com que ela alucine? Será que realmente ela precisa estar alerta o tempo todo? O álcool misturado com a medicação poderia estar causando tudo isso? Para Anna, sua percepção do mundo estava a cada dia mais questionável, já que um pequeno barulho dentro de casa já estava deixando-a em alerta com medo do que poderia ser. Então o que viu em sua janela poderia ser coisa de sua cabeça.

Pessoas que passam por ataques de pânico comumente tem várias dúvidas acerca do que estão sentindo e vivendo. A realidade, e até mesmo a autoimagem, passa a ser questionada pela própria pessoa e pelos outros. Atividades simples do dia a dia passam a ser vistas como extremamente difíceis e como fonte de angústia. Por medo de ter um ataque de pânico, muitos limitam os lugares por onde circulam, ou mesmo se confinam em casa, sentindo uma ansiedade por medo de ter uma crise de ansiedade. Não é ao acaso que a agorafobia pode estar associada, sendo mais um agravante do caso.

Pela alteração da percepção dos estímulos e da passagem do tempo, muitos se sentem presos em uma situação que parece que nunca vai passar. Isolados do mundo, há aqueles que tem pensamentos de morte antes ou na saída de quadros graves. O momento que ainda se tem forças ou que se recupera as forças para lutar contra os sentimentos angustiantes é decisivo na recuperação. É nesses pontos que é possível despertar o interesse pela vida, pelo o que acontece fora de si, sendo um fator que ajuda a dar o primeiro passo para retomar a vida.

Para Anna, retomar a própria vida era resolver o mistério do que havia acontecido na casa da frente. Isso foi o que a fez sair de casa pela primeira vez em muito tempo, a querer ajudar alguém e a admitir que a situação na qual estava vivendo não estava lhe fazendo bem. Tanto que dizer isso em voz alta seria aceitar que algo em sua vida precisava mudar. A importância da terapia nesses casos está na elaboração da aceitação do que se vive, da falta de controle que temos sobre certas situações e de que, mesmo assim, ainda temos a possibilidade de mudar o rumo de nossas vidas, recuperando a vontade de viver.

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Sheila Francisca Machado reside em Brasília, é psicóloga clínica, especialista em psicologia clínica e especializada em avaliação psicológica, CRP 01/16880. Atende adolescentes e adultos na Clínica de Nutrição e Psicologia - CLINUP. Atua com a abordagem Análise do Comportamento.
Contato: sheila_machado_@hotmail.com
Clínica Clinupclinup.blogspot.com
Instagram@empqnasdoses

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