Foto: Pandora Filmes / Parasita / Divulgação |
O quanto a situação social e econômica pode afetar o psicológico de uma pessoa? Essa é uma questão que começa a piscar em nossas cabeças assistindo ao filme Parasita (2019). Ki-woo é um jovem de família pobre que tem por objetivo entrar em uma faculdade, mas no momento ocupa seus dias fazendo bicos junto com sua família buscando conseguir dinheiro para pagar as necessidades básicas. Ele vive em um porão com seu pai, sua mãe e sua irmã em um bairro precário.
Em uma noite em que comemoravam ter conseguido dinheiro para pagar algumas contas, um amigo de Ki-woo visita sua casa levando como presente uma pedra, que supostamente seria capaz de atrair prosperidade financeira, além de oferecer uma possibilidade de trabalho como professor particular de inglês de uma jovem rica.
Ki-woo aproveita a oportunidade e vai até a residência da família Park dar aulas para a filha do casal Da-hye. Após terminar a primeira aula, ele conversa um pouco com a senhora Yeon-kyo sobre como será a rotina de trabalho e pagamento, quando ela começa a falar sobre o filho casula do casal, Da-song, que é agitado e, segundo ela, um gênio artista que não conseguiu manter até o momento nenhum professor. Então, Ki-woo vê a oportunidade de indicar sua irmã como uma qualificada professora de artes, o problema é que ela não é formada e ele a apresenta como se fosse uma conhecida de seu primo.
Esse foi só o começo de uma série de falcatruas para que a família de Ki-woo toda passasse a trabalhar para a família Park, o pai acabou virando motorista e a mãe a governanta, mas para a família Park nenhum deles tinha relação de parentesco entre si. Assim, Ki-woo e sua família melhoraram de renda, contudo a forma que fizeram isso trouxe complicações em alguns desdobramentos futuros, por exemplo, Ki-woo se apaixonou por Da-hye, porém teria que contratar atores para fingirem ser seus pais caso seu relacionamento desse certo.
Na visão de Ki-woo, a família Park parecia ser legal, não eram esnobes e podiam comprar o que quisessem. Com o passar dos dias, o casal Park, que não era esnobe, foi começando a parecer. A forma que eles gastavam dinheiro começou a incomodar e os preconceitos foram ficando cada vez mais evidentes. As pequenas coisas do dia a dia foram começando a incomodar Ki-woo e sua família, até que ele começou a se perguntar se conseguiria fazer parte daquela casa, se ele se encaixaria naquele lugar. À medida que o filme se aproxima do fim, a desigualdade de condições de vida e de oportunidade entre as duas famílias começam a parecer gigantescas.
Se desde o começo Ki-woo tivesse sido sincero o desfecho do filme teria sido diferente. Cada mentira que ele e sua família contava levava a outra mentira mais complicada de encobrir. No desespero por ter uma melhor condição financeira, decisões com consequências ruins foram tomadas, decisões essas que não tiveram como voltar atrás. Não temos como fugir das consequências das nossas ações. Cada um vai enfrentar as dificuldades e oportunidades da vida de uma forma. A forma que a família de Ki-woo aprendeu a lidar com as dificuldades foi aplicando golpes, e por consequência se viram em uma situação de estresse que limitou ainda mais as possibilidades de mudar a vida que eles tinham, a ponto de um deles entrar em um colapso nervoso.
Refletindo sobre o que é mostrado no filme, fica evidente que a situação social e econômica afeta significativamente o psicológico de qualquer pessoa, e que políticas públicas são importantes meios de oferecer oportunidade aqueles que não as tem com facilidade. Quando elas são ineficazes o que se vê na população de baixa renda é sofrimento e desespero. Outra reflexão importante é sobre ter empatia por quem tem condições de vida diferente das nossas. Afinal, a dúvida sobre quem somos e onde nos encaixamos não é restrita a uma classe social, é um questionamento e uma busca comum a qualquer ser humano que se sente perdido.
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Sheila Francisca Machado reside em Brasília, é psicóloga clínica, especialista em psicologia clínica e especializada em avaliação psicológica, CRP 01/16880. Atende adolescentes e adultos na Clínica de Nutrição e Psicologia - CLINUP. Atua com a abordagem Análise do Comportamento.
Contato: sheila_machado_@hotmail.com
Clínica Clinup: clinup.blogspot.com
Instagram: @empqnasdoses
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Boa análise Sheila!
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