O problema das expectativas em (500) Dias Com Ela

9 de junho de 2020


Foto: Fox Film / (500) Dias Com Ela / Divulgação

Tom é um rapaz cheio de esperanças, que acredita em destino e no amor à primeira vista, enquanto que Summer é uma garota que não acredita no amor por conta da desintegração da relação de seus pais. Assim somos apresentados a essas duas pessoas que irão se conhecer, se relacionar e se separa durante o filme “(500) Dias Com Ela” (2009).

Tom já trabalhava criando mensagens para cartões de comemorações quando Summer foi contratada para trabalhar na empresa. Ao vê-la pela primeira vez, Tom decidiu que ela era a garota certa, perfeita antes mesmo de falar com ela. Mas foi Summer quem iniciou a primeira conversa entre os dois por conta de uma música que Tom ouvia no elevador.

A partir desse primeiro contato, outros foram acontecendo, pequenas conversas no escritório. Conversavam sobre as coisas que gostavam, músicas, livros, planos de futuro que não se realizaram antes de se conhecerem, brincavam e se divertiam. Muitas frases de Summer eram interpretadas por Tom sem ao menos ele ter certeza do que ela quis dizer, sem ele perguntar mais sobre isso, sem ele compreender o significado por traz do que foi dito. Tom foi tentando teorizar sobre cada ação de Summer e o que ela poderia ter tentado dizer para ele.

Os amigos e a irmã de Tom foram tentando ajuda-lo e aconselhá-lo para ele tentar expressar seus sentimentos por Summer, enquanto que Summer já estava decidida. Ela não acreditava no amor, não achava que relacionamentos pudessem durar e via em Tom um amigo, com quem ela poderia curtir o momento, se divertir, aproveitar a vida, confiar histórias antes não contadas. Mas sempre avisou a Tom que não procurava um relacionamento sério, que não queria nada além da amizade com benefícios, que para ela eles eram apenas amigos. Ela não estava pronta para ter uma relação séria com alguém.

Com o passar dos dias, para Tom a amizade entre os dois já havia evoluído, na cabeça dele eles namoravam e ele já havia criado uma série de expectativas em relação a Summer, o relacionamento e o futuro dos dois juntos. Ele estava feliz de estar com ela, era um namoro ótimo, eles se divertiam e se completavam, o mundo estava como nos filmes de comédia românticas e nas músicas pop sobre amor que ele tanto ouvira durante sua vida. Ele havia criado uma imagem idealizada de Summer e estavam em um relacionamento sério com essa imagem. Para Tom a sua felicidade era igual a felicidade de Summer, tanto que ficou surpreso quando descobriu que para Summer a relação não evoluiu, ela não estava mais feliz e que ela queria que fossem apenas amigos, só que agora sem os benefícios.

Um desafio nos relacionamentos é buscar viver a realidade, o momento, ao invés de viver as expectativas e os sonhos. Muitas pessoas se perdem na expectativa e não fazem a manutenção da relação na realidade, deixando de se relacionar com a pessoa real que está ali diante de si para se relacionar com a pessoa que criou no seu imaginário. Com isso, sentimentos podem acabar ignorados e relações que poderiam dar certo não tem sua base construída na compreensão de quem é o outro e o que o outro busca em um relacionamento. A comunicação adequada não é estabelecida, a empatia é ignorada e o respeito largado de lado quando se abandona a relação com a pessoa real para focar apenas na pessoa idealizada. Basicamente se torna um relacionamento de si consigo mesmo.

Para que ambos se sintam seguros dentro da relação é preciso a via de mão dupla, a comunicação clara, a negociação sobre os próximos passos, o respeito as individualidades, a criação do “nós” e o alinhamento de expectativas, ou corre o risco de que um esteja satisfeito enquanto que o outro esteja infeliz com o que está vivendo, falha essa vivida por Tom e Summer. Mas, quem sabe em uma próxima oportunidade, os dois possam construir com outras pessoas o relacionamento em que se viva a realidade e não a expectativa. Em qualquer relação, é importante procurar viver o momento, a realidade e conhecer a pessoa que está ao nosso lado, sem começar a criar uma pessoa idealizada em nosso imaginário que não tenha ligação com a pessoa que nos relacionamos.

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Sheila Francisca Machado reside em Brasília, é psicóloga clínica, especialista em psicologia clínica e especializada em avaliação psicológica, CRP 01/16880. Atende adolescentes e adultos na Clínica de Nutrição e Psicologia - CLINUP. Atua com a abordagem Análise do Comportamento.
Contato: sheila_machado_@hotmail.com
Clínica Clinupclinup.blogspot.com
Instagram@empqnasdoses

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