O Amor nos Tempos do Cólera

25 de janeiro de 2020

Foto: 20th Century Studios / O Amor nos Tempos do Cólera / Divulgação

Se você acredita que o amor tudo supera, tudo suporta e que nunca acaba; que resiste ao tempo, aos desgastes, as mudanças e a tudo que houver de problema, você já é fã do Florentino Ariza, ou pelo menos poderia ser. Afinal, Florentino, o personagem principal deste filme, enxerga o amor como a coisa mais importante da vida. Ele é um verdadeiro romântico, pois investe em busca do amor até encontrar o objeto de seus desejos. Uma vez encontrado, não “arreda pé” e não mede esforços até conquistá-lo. “O Amor nos Tempos do Cólera” (2007) - filme baseado no livro de Gabriel Garcia Marquez - conta a história de um amor para vida toda. Para quem gosta de romance, é um filme e tanto!

Ele poderia até ser um Romeu, lutando para romper as barreiras externas ao seu amor, no entanto, o tipo de sacrifício que ele se impõe é um tanto diferente. O sacrifício de uma vida inteira em busca de uma paixão não concretizada. Para Florentino, nem a distância física, nem as recusas de Fermina Daza (seu amor) são suficientes para esmorecer sua paixão. Ele é a personificação do que chamamos de amor romântico. O romantismo ilustra um amor que vence todos os obstáculos, que é criativo e cresce quando encontra resistência.

No filme, é possível perceber que Fermina não vivencia o amor da mesma forma que Florentino, tendo um papel passivo na trama. É Florentino que pauta sua vida na busca incessante por conquistar a mulher amada e estar “à altura dela”. Enfrentando, inclusive o tempo, na busca por seu amor.

Na relação a dois, após os momentos de descobertas, as coisas ficam familiares e acabam fazendo parte da rotina do casal, se tornando comuns e nem sempre tão encantadoras. Florentino, diante da impossibilidade de desenvolver uma relação íntima, se apoia em uma visão idealizada de Fermina sustentada na ausência de desgastes naturais da convivência a dois. 

Mesmo sendo uma história de amor, o filme possibilita algumas reflexões:  O que levou Florentino a envolver-se com várias mulheres de forma superficial, evitando se relacionar de forma profunda? É possível amar uma pessoa que pouco se conhece? O que faz alguém sustentar uma relação não correspondida durante anos? Cabe nos tempos de hoje este modelo de amor? É um modelo saudável?

Pensando na vida de Florentino, é possível indagar se parte das pessoas carregam um pedaço dele consigo. A construção de uma imagem da pessoa amada em muitos casos é baseada em poucas experiências que tivemos com ela. Recortamos das pessoas apenas aquilo que queremos que se encaixe na nossa conveniência e vontade, criando assim ilusões. Com isso, é possível observar a quantidade de frustrações e decepções amorosas baseadas em modelos ideais de amor romântico. 

Muitas pessoas ainda buscam um amor como o de Florentino - insistente, incansável e supridor - carecendo de um modelo de amor que proporcione tempos de paz e não de cólera, que comporte os conflitos diários de uma relação verdadeira: as discordâncias, os mau-humores matinais, as incoerências, os impasses, as frustrações e os desgastes e proporcione, por meio do envolvimento e da convivência, o desenvolvimento das virtudes como a paciência, a tolerância, a compreensão, o perdão, a sinceridade, a cumplicidade que são combustíveis necessários para a saúde de qualquer relação.

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Cinthia Regina Moura Rebouças, psicóloga, CRP 23/001197, atende em consultório particular, adolescentes e adultos, com ênfase psicanalítica, em Palmas-TO. Possui MBA em Gestão de Pessoas (FGV), experiência como Docente do Curso de Gestão de Recursos Humanos, trabalha na interseção entre psicanálise e Trabalho. Tem experiência em trabalho com grupos, Avaliação Psicológica, na área Organizacional e na Condução de processos de Orientação Profissional.
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