Palavras que Borbulham Como Refrigerante e a expressão das emoções

10 de setembro de 2021

 

Foto: Netflix / Palavras que Borbulham como Refrigerante / Divulgação.

Cerejinha é um garoto tímido que tem dificuldade de falar em voz alta o que pensa e sente e encontra na possibilidade de escrever poemas haikai uma forma de se expressar de forma escrita. Os poemas haikai são curtos, compostos por três versos e pode com ter um kigo, que é um termo que faz referência a uma estação do ano. Por ter dificuldade com que é dito em voz alta, Cerejinha é fissurado nesses curtos poemas, estando disposto a aprender sobre como escrevê-los e até mesmo compartilhar alguns dos seus nas redes sociais.

Sorrisinho é uma garota alegre, mas com vergonha de seus dentes da frente salientes, que, para piorar, estão de aparelho. Apesar do problema de autoestima em relação aos seus dentes, é uma influencer famosinha. Em suas lives tem muitas pessoas interagindo com ela enquanto ela, de máscara, busca mostrar coisa fofas que vê pela frente. Ela não vê sua aparência física como fofa por conta de seus dentes, o que a torna fissurada por mostrar coisas fofas, como ela mesma gostaria de ser.

Imagine o que poderia acontecer se os dois se esbarrassem por acaso? É o que vemos no filme “Palavras que Borbulham Como Refrigerante” (2021). Cerejinha e Sorrisinho se conhecem ao esbarrarem um no outro em um dia de verão no shopping. Cerejinha estava em seu horário de trabalho em um centro de idosos do shopping quando começa a assistir uma corrida de bebês na parte central do estabelecimento. Já Sorrisinho tinha acabado de sair do dentista e estava fazendo uma live para mostrar as coisas fofas que encontrava no shopping. A corrida engatinhada chamou sua atenção e se aproximou para ver. Foi preciso alguém passar correndo para que os dois que estavam um ao lado do outro se encontrassem. Por conta do esbarrão, acabaram trocando os smartphones e depois de destrocá-los começaram a interagir.

Juntos acabaram assumindo a missão de ajudar o sr. Fujiyama, um dos frequentadores do centro de idosos, a encontrar um disco de vinil que ele tanto procurava, pois não queria esquecer a voz e a mensagem ali gravadas. Uma lembrança afetiva que ele tinha medo de esquecer, tanto que é o disco que ele mais ouviu em sua vida toda. O que estava ali gravado era uma mensagem importante demais para o sr. Fujiyama, um sentimento que ele não queria jamais esquecer.

A comunicação é até hoje um desafio no mundo. Cada um tem seu jeito de se comunicar e muitos têm suas dificuldades em relação a como se expressar. Palavras podem ter mais de um sentido e ações podem dizer mais que muitas palavras. No filme, vamos percebendo isso através dos ditos, dos não ditos, dos poemas curtos, na obsessão em mostrar coisas fofas ou na insistência de achar o disco perdido. As mensagens passadas transcendem a necessidade de palavras, sem fazer com que elas deixem de ser necessárias. As palavras e os gestos se complementam.

Quando se pensa em comunicação é comum a primeira associação ser a comunicação verbal, aquela que depende da palavra, seja falada ou escrita. Uma visão resumida do que significa essa ação complexa que envolve no mínimo uma mensagem a ser passada e pessoas para passa-la e recebe-la. Além das letras, tudo pode compor essa mensagem passada: olhares, gestos, entonação da voz, postura, imagens, símbolos, sons. É através da comunicação que temos oportunidade de expressar sentimentos e emoções. O que cada um sente é único e particular, mas temos como imaginar o que o outro passa ao estarmos atentos ao que nos é comunicado.

Algo que parece simples, mas é complexo, principalmente por aprendermos a nos comunicar nos ambientes sociais em que convivemos, pegando assim a dificuldade de quem nos ensina. Com isso, torna-se necessário ir além, rever a forma e o conteúdo da comunicação para tentar identificar os pontos falhos. E tudo bem ter falhas, basta identificá-las e buscar melhorar. Do contrário corremos o risco de continuar repetindo um ciclo interminável dos mesmos erros de comunicação. E os sentimentos e emoções não escapam disso.

Se comunicar uma informação pode ser difícil, imagine então o quão desafiador pode ser expressar uma emoção? Principalmente para quem tem dificuldade de entender direito o que sente, já que expressar sentimentos e emoções envolve autoconhecimento, e, em muitos casos, a existência de um vínculo de intimidade que abra espaço para um ambiente acolhedor. A comunicação é cheia de nuances, sendo mais leve em relacionamentos acolhedores, com empatia e respeito. Quando este relacionamento está em construção pode acontecer de ser algo mais lento e, às vezes, nas entrelinhas.

Talvez a maior jornada de Cerejinha, Sorrisinho e Fujiyama seja a de expressar seus sentimentos, entrar em contato com suas emoções, superar barreiras e serem compreendidos. Jornada essa que depende das palavras faladas, escritas, cantadas e demonstradas. A amplitude de possibilidades de comunicar o que se sente é tão ampla, mas depende de ouvidos e olhares atentos a escutar, entender e acolher a mensagem. E você, tem refletido sobre como tem comunicado seus sentimentos? Está se sentindo compreendido? O que será que está faltando para que haja a compreensão?

____________________


Sheila Francisca Machado reside em Brasília, é psicóloga clínica, especialista em psicologia clínica e especializada em avaliação psicológica, CRP 01/16880. Atende adolescentes e adultos na Clínica de Nutrição e Psicologia - CLINUP. Atua com a abordagem Análise do Comportamento.
Contato: sheila_machado_@hotmail.com
Clínica Clinupclinup.blogspot.com
Instagram@empqnasdoses

Nenhum comentário:

Postar um comentário