Foto: Netflix / Palavras que Borbulham como Refrigerante / Divulgação. |
Cerejinha é um garoto tímido que tem dificuldade de falar em
voz alta o que pensa e sente e encontra na possibilidade de escrever poemas
haikai uma forma de se expressar de forma escrita. Os poemas haikai são curtos,
compostos por três versos e pode com ter um kigo, que é um termo que faz
referência a uma estação do ano. Por ter dificuldade com que é dito em voz
alta, Cerejinha é fissurado nesses curtos poemas, estando disposto a aprender
sobre como escrevê-los e até mesmo compartilhar alguns dos seus nas redes
sociais.
Sorrisinho é uma garota alegre, mas com vergonha de seus
dentes da frente salientes, que, para piorar, estão de aparelho. Apesar do
problema de autoestima em relação aos seus dentes, é uma influencer famosinha.
Em suas lives tem muitas pessoas interagindo com ela enquanto ela, de máscara,
busca mostrar coisa fofas que vê pela frente. Ela não vê sua aparência física
como fofa por conta de seus dentes, o que a torna fissurada por mostrar coisas
fofas, como ela mesma gostaria de ser.
Imagine o que poderia acontecer se os dois se esbarrassem
por acaso? É o que vemos no filme “Palavras que Borbulham Como Refrigerante”
(2021). Cerejinha e Sorrisinho se conhecem ao esbarrarem um no outro em um dia
de verão no shopping. Cerejinha estava em seu horário de trabalho em um centro
de idosos do shopping quando começa a assistir uma corrida de bebês na parte
central do estabelecimento. Já Sorrisinho tinha acabado de sair do dentista e estava
fazendo uma live para mostrar as coisas fofas que encontrava no shopping. A corrida
engatinhada chamou sua atenção e se aproximou para ver. Foi preciso alguém
passar correndo para que os dois que estavam um ao lado do outro se
encontrassem. Por conta do esbarrão, acabaram trocando os smartphones e depois de
destrocá-los começaram a interagir.
Juntos acabaram assumindo a missão de ajudar o sr. Fujiyama,
um dos frequentadores do centro de idosos, a encontrar um disco de vinil que
ele tanto procurava, pois não queria esquecer a voz e a mensagem ali gravadas.
Uma lembrança afetiva que ele tinha medo de esquecer, tanto que é o disco que ele
mais ouviu em sua vida toda. O que estava ali gravado era uma mensagem importante
demais para o sr. Fujiyama, um sentimento que ele não queria jamais esquecer.
A comunicação é até hoje um desafio no mundo. Cada um tem
seu jeito de se comunicar e muitos têm suas dificuldades em relação a como se expressar.
Palavras podem ter mais de um sentido e ações podem dizer mais que muitas
palavras. No filme, vamos percebendo isso através dos ditos, dos não ditos, dos
poemas curtos, na obsessão em mostrar coisas fofas ou na insistência de achar o
disco perdido. As mensagens passadas transcendem a necessidade de palavras, sem
fazer com que elas deixem de ser necessárias. As palavras e os gestos se complementam.
Quando se pensa em comunicação é comum a primeira associação
ser a comunicação verbal, aquela que depende da palavra, seja falada ou
escrita. Uma visão resumida do que significa essa ação complexa que envolve no
mínimo uma mensagem a ser passada e pessoas para passa-la e recebe-la. Além das letras, tudo pode compor essa mensagem passada: olhares, gestos, entonação da voz, postura, imagens, símbolos, sons. É
através da comunicação que temos oportunidade de expressar sentimentos e
emoções. O que cada um sente é único e particular, mas temos como imaginar o
que o outro passa ao estarmos atentos ao que nos é comunicado.
Algo que parece simples, mas é complexo, principalmente por
aprendermos a nos comunicar nos ambientes sociais em que convivemos, pegando
assim a dificuldade de quem nos ensina. Com isso, torna-se necessário ir além,
rever a forma e o conteúdo da comunicação para tentar identificar os pontos
falhos. E tudo bem ter falhas, basta identificá-las e buscar melhorar. Do
contrário corremos o risco de continuar repetindo um ciclo interminável dos
mesmos erros de comunicação. E os sentimentos e emoções não escapam disso.
Se comunicar uma informação pode ser difícil, imagine então
o quão desafiador pode ser expressar uma emoção? Principalmente para quem tem
dificuldade de entender direito o que sente, já que expressar sentimentos e emoções
envolve autoconhecimento, e, em muitos casos, a existência de um vínculo de
intimidade que abra espaço para um ambiente acolhedor. A comunicação é cheia de
nuances, sendo mais leve em relacionamentos acolhedores, com empatia e
respeito. Quando este relacionamento está em construção pode acontecer de ser
algo mais lento e, às vezes, nas entrelinhas.
Talvez a maior jornada de Cerejinha, Sorrisinho e Fujiyama
seja a de expressar seus sentimentos, entrar em contato com suas emoções,
superar barreiras e serem compreendidos. Jornada essa que depende das palavras
faladas, escritas, cantadas e demonstradas. A amplitude de possibilidades de
comunicar o que se sente é tão ampla, mas depende de ouvidos e
olhares atentos a escutar, entender e acolher a mensagem. E você, tem refletido sobre
como tem comunicado seus sentimentos? Está se sentindo compreendido? O que será
que está faltando para que haja a compreensão?
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Sheila Francisca Machado reside em Brasília, é psicóloga clínica, especialista em psicologia clínica e especializada em avaliação psicológica, CRP 01/16880. Atende adolescentes e adultos na Clínica de Nutrição e Psicologia - CLINUP. Atua com a abordagem Análise do Comportamento. Contato: sheila_machado_@hotmail.com Clínica Clinup: clinup.blogspot.com Instagram: @empqnasdoses |
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