Foto: Estúdio Ghibli / Sussurros do Coração / Divulgação |
No filme Sussurros do Coração (1995), Shizuku Tsukishima é uma jovem que se esconde atrás dos livros por não saber o que quer para sua vida. Sem decisões sobre o futuro e com as provas para entrar na escola de ensino médio chegando cada vez mais perto, ao invés de estudar continua pegando livros de ficção na biblioteca para ler e nota algo que lhe parece o destino, uma mesma pessoa, Seiji Amasawa, tem lido os mesmos livros que ela.
Curiosa com esse fato, começou a tentar descobrir quem é Seiji, enquanto permanecia se afastando daquilo que estava a atormentado, mesmo sem a pressão dos pais, decidir sobre seu futuro. Sua irmã mais velha, Shiho, é quem lhe cobrava estudar e se esforçar para passar para uma boa escola de ensino médio. Mas Shizuku ainda não conseguia focar nos estudos, não sabia bem o que queria fazer da vida, não tinha um objetivo claro para o futuro. Estudar para algo que ela não sabia o que era não parecia motivador, então ela se escondia atrás dos livros, deixando de aproveitar sua juventude e de tirar o tempo que precisava para estudar.
Por falta de motivação para os estudos, começou a procurar descobrir quem é aquele que tem lido os mesmos livros que ela e as pistas para isso estavam na biblioteca. Seu faro para os livros de ficção em busca de mais informações estava cada vez mais aguçado, enquanto tentava ignorar as dúvidas que lhe corroíam por dentro: No que ela poderia ser boa? O que será que ela quer da vida? O que ela quer buscar para o seu futuro? Seus colegas estão focados nos estudos para o vestibular do ensino médio, mas que sentido essas provas tem para ela?
Assim, o sentido que decidiu dar para sua vida naquele momento foi procurar Seiji Amasawa, que a cada vez que procurava parecia estar mais perto do que ela imaginava, porém ainda assim aparentava longe o suficiente para ela continuar a procurar. A busca por Seiji nada mais era do que a uma busca por um sentido para a vida. Assim, continuava a ler os livros de ficção que outra pessoa leu antes, vivendo os romances escritos em cada página. A busca por esse alguém que estava lendo junto com ela os mesmos títulos parecia coisa do destino.
Enquanto procurava por um estranho, estava ajudando sua amiga Yuko com um interesse romântico e estava escrevendo uma letra para uma melodia, que pudesse ser usada pelo grupo de música em que fazia parte na escola. Sua amiga estava apaixonada por um amigo de Shizuku e, enquanto procurava por seu destino, ela buscava ajudar a amiga a se aproximar do interesse amoroso, quase como um cupido. Em um desses momentos de ajuda, acabou conhecendo um garoto de outra sala que a conhecia pelo seu nome completo, mas tinha um jeito bobão e intrometido. Por esquecer seu caderno no banco em que estava conversando com Yuko, ele leu sua letra e ainda deu palpite no que não foi chamado, dizendo o que ela deveria riscar da composição.
Esse encontro mexeu com Shizuku, ela estava em busca de um príncipe, alguém calmo, carinhoso e gentil, mas esbarrou com um sapo, bobalhão e palpiteiro. Mas as coincidências do destino não paravam por aí. Em uma de suas idas a biblioteca encontrou uma curiosa loja, depois de seguir um gato com cara de poucos amigos. Ficou encantada com a loja e com as histórias que ouviu do dono, principalmente sobre o Barão, um boneco gato com olhos de esmeralda. E não é que a loja era do avô do garoto palpiteiro? Conhecê-lo a obrigou a pensar sobre seu futuro, já que o garoto tinha sonhos e planos, os quais não estava disposto a abrir mão, enquanto ela nunca soube dizer no que era boa ou o que queria fazer da vida, a não ser viver um dia de cada vez.
Pensar sobre o futuro pode ser assustador ou mesmo nos paralisar, não importa se estamos na adolescência ou na vida adulta. Constantemente somos convidados a pensar sobre o que queremos para daqui a cinco ou dez anos, quais são os nossos planos a longo prazo, enquanto o presente ainda parece tão cheio de dúvidas. É complicado ter certezas quando ainda precisamos nos conhecer melhor e descobrir qual caminho queremos trilhar. Ou mesmo é difícil trilhar um caminho, quando sabemos que ir atrás do que escolhemos é assumir as responsabilidades dos erros e acertos que iremos ter durante essa jornada.
A ideia de uma vocação, algo que somos nascidos para fazer e que não temos outras opções a não ser seguir algo predestinado, é tão fantasiosa quanto viver dentro dos livros de ficção. Encarar a realidade é entender que podemos ser muita coisa, temos muitas habilidades e interesses, sem contar que podemos desenvolver tantas habilidades diferentes através do nosso esforço e dedicação. A escolha profissional está tanto no que sabemos, no que queremos saber, quanto no que vivemos atualmente. Escolher uma carreira é algo circunstancial, mas podemos mudar de ideia, fazer redirecionamentos e optar por fazer trocas durante a vida. Independentemente do que escolhermos, nos tornamos responsáveis pelas consequências dessas escolhas e precisamos do esforço para lapidar nossas capacidades, nos tornando pessoas e profissionais cada vez mais capacitados e atualizados.
A decisão que Shizuku sentia tanto receio de tomar só poderia acontecer à medida que ela se permitisse se conhecer melhor, refletisse sobre as possibilidades que tinha e se esforçasse para se melhorar cada dia mais. Lembrando que não precisamos de nos tornar escravos cativos de nossas escolhas. Nos conhecer é tanto saber quando precisamos nos manter em uma decisão, quanto saber em que momento precisamos fazer a mudança necessária para dar outro rumo na nossa vida. Saber que rumo se quer da vida é ter um objetivo que nos motive a crescer. A cada momento podemos reavaliar esse objetivo e direcionar nossas ações para atingir o que queremos. Não importa o que escolhemos, o valor da escolha está no esforço que estamos dispostos a fazer para atender o sussurro do nosso coração em relação ao futuro que queremos ter e saber aproveitar o presente, valorizando aquilo que já conquistamos!
____________________
Sheila Francisca Machado reside em Brasília, é psicóloga clínica, especialista em psicologia clínica e especializada em avaliação psicológica, CRP 01/16880. Atende adolescentes e adultos na Clínica de Nutrição e Psicologia - CLINUP. Atua com a abordagem Análise do Comportamento. Contato: sheila_machado_@hotmail.com Clínica Clinup: clinup.blogspot.com Instagram: @empqnasdoses |
Nenhum comentário:
Postar um comentário