Como Superar um Fora - reflexões sobre o fim de um relacionamento

19 de março de 2021

 

Foto: Netflix / Como Superar um Fora / Divulgação.

Após 6 anos de namoro, Maria Fé leva um fora via Skype de seu namorado Matias. Levando-se em conta que o relacionamento estava sendo mantido à distância, pois ela vivia em Lima, no Peru, e ele em Madri, na Espanha, é possível até compreender a forma do término.

Porém, para Maria Fé a notícia cai como um balde de água fria. A impossibilidade de prever o término faz com que ela o receba como um choque e demonstre uma grande dificuldade de processar o que se passou, entrando em um longo processo de luto.  

Apesar da reação demonstrada por Maria Fé, sabemos que o namoro com Matias não terminou “do nada”. Brigas já haviam acontecido, irritações e desgastes que demonstraram que namorar a distância não estava sendo algo saudável para o casal. Mesmo assim, ela insiste em lidar com os fatos como se o príncipe encantado tivesse se tornado um sapo de uma hora para outra.  

O fato é que perder alguém querido costuma ser algo dolorido, não só pelo sentimento envolvido, mas também pela função que a pessoa tem em nossa vida, pelo costume de ter por perto alguém que nos conheça e com quem já tenhamos aprendido a lidar. Para Maria Fé, lidar com Matias era fácil, o que ela não lembrava era como lidar consigo mesma. 

Ela, então, utiliza algumas estratégias para superar fim do relacionamento e se sentir menos só. Até chega a imaginar que Matias está no mesmo ambiente que ela, que fala e participa de sua vida. Entretanto, essa presença só aumenta a vontade de retomar a antiga relação.   

Vivenciando esse novo cenário em sua vida, ela precisa então se reinventar, fazendo coisas que antes não fazia, por sempre ter vivido em prol da felicidade do namorado ao invés dela mesma. Adicionando experiências desafiantes, se esforçando para viver coisas novas.  

Como forma de extravasar, ela se volta para escrever para outras mulheres em um blog sobre sua experiência na busca de superar um fora e a readaptação na vida de solteira. Também decide dividir o apartamento com outra pessoa. Esse movimento é benéfico para Maria Fé, que adota para si a máxima de que "A vida é como andar de bicicleta, para manter o equilíbrio é necessário continuar avançando". E começa a enxergar as coisas de outro ponto de vista.  

Como Superar Um Fora (2018) é sem dúvida uma boa pedida para todas aquelas pessoas que já passaram ou estão passando por isso. Também é para quem ainda irá passar, para já ir aprendendo com as fases dramáticas do término de um relacionamento, que não precisa ser assim, mas para grande parte das pessoas em nossa cultura ainda é. 

Muitas vezes, a intensidade com que Maria Fé viveu o fim do seu relacionamento deve-se a própria forma como nossa sociedade alimenta a ideia de amor romântico. No qual o amor é considerado uma espécie de oásis em que cada um se recolhe em busca de alívio e conforto emocional, depois de ser maltratado pelas punições do mundo exterior, de trabalho e dos negócios. 

Depositando todas as fichas em sua relação, Maria Fé se sente punida por ter inclinado-se  para fora de si a fim de enxergar uma outra pessoa e poder assim se relacionar. Porém, essa abertura não garante que a relação fará sentido para sempre. Essa é uma situação típica dos dilemas sociais pelo quais passam grande parte dos casais em nossa sociedade. A arte é a crítica da vida e, sendo assim, precisamos nos atentar para como as expectativas em relação a ter uma pessoa na nossa vida molda nossos pensamentos e ações.  

Colocar um relacionamento como meta ou como status a ser conquistado gera, frequentemente, quebras de expectativas, frustações e mágoas nas pessoas. Seguir acreditando que só seremos felizes com uma outra pessoa gera tensões na relação antes mesmo de ela existir, fazendo com que os casais lutem contra muito maior do que eles mesmos, contra as idealizações formadas sobre o próprio se relacionar.  

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Cinthia Regina Moura Rebouças, psicóloga, CRP 23/001197, atende em consultório particular, adolescentes e adultos, com ênfase psicanalítica, em Palmas-TO. Possui MBA em Gestão de Pessoas (FGV), experiência como Docente do Curso de Gestão de Recursos Humanos, trabalha na interseção entre psicanálise e Trabalho. Tem experiência em trabalho com grupos, Avaliação Psicológica, na área Organizacional e na Condução de processos de Orientação Profissional.
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Instagram: @empqnasdoses

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