Foto: Sony Pictures / Flores de Aço / Divulgação. |
Em “Flores de Aço” (2012), Shelby está prestes a se casar, mas está tendo dúvidas por ter recebido uma recomendação médica para não engravidar. Shelby é diabética, convive com a doença e com uma série de cuidados necessários para cuidar da saúde e agora recebeu um diagnóstico de doença renal crônica. Sua mãe, M’Lynn, é superprotetora, está disposta a fazer tudo pela saúde e felicidade da filha. Assim, compartilha com suas amigas no salão de beleza tanto os momentos tristes quanto os momentos felizes de acompanhar a filha adulta tomando suas próprias decisões.
A dona do salão, Truvy, também está passando por um momento difícil. Seu esposo está com dificuldade de trabalhar e com isso está distante, deprimido no sofá de casa, se isolando. O trabalho no salão contribui para pagar as contas de casa, ao mesmo tempo em que lhe dá a oportunidade de conviver com suas amigas, M’Lynn, Clariee e Ouiser.
Ouiser passou por dois casamentos que a deixou amargurada e seus filhos são distantes. Está constantemente demonstrando seu mal humor por onde passa, mas na hora que precisam dela ela está lá. Acaba passando seu tempo no salão de beleza ou cuidando de seu cachorro idoso e doente. Como tudo a incomoda, frequentemente o esposo e os filhos de M’Lynn a importunam por achar engraçado suas reações.
Já Clariee é a amiga viúva que relembra constantemente as histórias de seu casamento feliz, mas que se sente solitária por não ter mais a presença do esposo. Portanto, nas amigas encontra um ponto de apoio, onde tem a oportunidade de se sentir parte de algo, de um grupo de mulheres adultas, que assim como ela, tem muitas histórias para contar e ainda muito o que viver.
As quatro amigas, que são vizinhas, se encontram e acompanham as dificuldades de Shelby e esses encontros fazem bem a M’Lynn, que de alguma forma se sente entendida e acolhida pelas amigas. A jovem Annelle é a ajudante do salão de beleza e acaba sendo acolhida por elas também, já que se mudou para a cidade sem ter uma rede de apoio, ficando sozinha quando o rapaz com quem se envolveu foi preso. Mesmo após descobrir a real situação de Annelle, Truvy não desistiu de lhe dar uma chance de recomeçar. Shelby e Annelle são as mais novas desse grupo de mulheres e acabam se tornando parte do grupo de amigas. A amizade construída entre essas seis mulheres vai se fortalecendo no decorrer do filme.
Em suas casas, cada uma demonstra força e capacidade de vencer as adversidades. Mesmo com medo, não desistem dos sonhos e das pessoas queridas. Mas é no salão que todas se permitem mostrar suas fragilidades, enquanto arrumam o cabelo e fazem a manicure, compartilhando as dores e medos que sentem umas com as outras. Deste modo, vão apoiando cada uma no que for preciso, mesmo quando não concordam com as decisões da amiga.
No próprio título do filme já temos uma noção do que ele trata, sobre a força mostrada por essas mulheres em momentos delicados e sensíveis. A noção de que as mulheres têm que ser fortes, dar conta de tudo, de serem a flor admirada pela força com a qual resolve as dificuldades da vida. As pessoas, em geral, são convidadas a serem sempre fortes, sendo a força atribuída muitas vezes a esconder os sentimentos, afinal, no senso comum, sentimentos são fraquezas. Não é à toa que uma frase de Freud ficou tão famosa: "somos feitos de carne, mas temos de viver como se fôssemos de ferro”. Uma noção de que temos que dar conta de tudo, custe o que custar. O problema é que muitas vezes o custo para ser “forte” pode ser caro e ser “forte” o tempo todo pode ser solitário e adoecedor.
Aceitar os sentimentos, ter coragem de pedir ajuda e entender que não temos como controlar tudo são atributos que fortalecem as pessoas. Ignorar os sentimentos não é força. Se vivemos em sociedade, nos organizamos em comunidade, é claro que o apoio mútuo é importante para termos bem-estar. Essa cultura de jogar uma pessoa contra a outra, em uma eterna competição de quem é o mais forte, quem é a pessoa capaz de resolver tudo sozinha e de que no primeiro erro cometido deve-se excluir uma pessoa sem permitir uma segunda chance, não é saudável.
O importante é ter e dar apoio, estar junto nos bons e maus momentos, ficar feliz pelas conquistas dos outros e poder comemorar as próprias conquistas. E na hora do sofrimento estar lá, mesmo que presente em silêncio, através de algum pequeno gesto ou com uma ou duas palavras de apoio. A experiência de cada um é única e singular. Contundo, não significa que precisa ser solitária. Além disso, não há necessidade de se viver em uma eterna competição com os outros, o que faz a diferença no final do dia é o quanto a união entre as pessoas pode dar suporte a cada uma. Estar disponível para pedir apoio ou para apoiar é uma lição preciosa que esse grupo de amigas nos ensinam.
____________________
Sheila Francisca Machado reside em Brasília, é psicóloga clínica, especialista em psicologia clínica e especializada em avaliação psicológica, CRP 01/16880. Atende adolescentes e adultos na Clínica de Nutrição e Psicologia - CLINUP. Atua com a abordagem Análise do Comportamento. Contato: sheila_machado_@hotmail.com Clínica Clinup: clinup.blogspot.com Instagram: @empqnasdoses |
Nenhum comentário:
Postar um comentário