Foto: Sony Pictures / Passageiros / Divulgação. |
Imagine um evento capaz de mudar o rumo da vida de uma pessoa. Todos os planos e expectativas, os esforços e investimentos impedidos de prosperar. Toda energia empenhada em uma direção, a quantidade de horas e de tempo investido em um sonho que infelizmente não se concretizou. Só quem já teve seu castelo posto por chão abaixo sabe o quão frustrante é fazer todo um planejamento e não conseguir colher os frutos de seu empenho. Esse tipo de situação é capaz até de imobilizar algumas pessoas, fazendo-as cair na apatia e no desgosto. A força dos eventos adversos e a forma de superá-los é um dos tópicos que acompanhamos no filme “Passageiros” (2016).
Uma nave leva 5.000 passageiros a caminho de um mundo-colônia, parte da viagem de 120 anos para colonizar outro planeta com a promessa de um novo recomeço. No meio da viagem, dois passageiros Jim e Aurora acabam acordando 90 anos antes da nave chegar ao seu destino e logo se desesperam ao descobrir que não é possível voltar a dormir. Pois, todos os passageiros são transportados em câmaras criogênicas, justamente para não envelhecerem durante a viagem. Ao continuarem acordados, Jim e Aurora envelhecerão na velocidade normal humana enquanto os outros passageiros não, consequentemente, não chegarão ao seu destino e não concretizarão os planos que os fizeram embarcar nessa viagem.
Como duas pessoas podem ocupar as suas vidas inteiras isoladas da sociedade? Tudo depende sobre como as pessoas se relacionam com o tempo e consigo mesmas. No caso de Jim e Aurora, o filme nos dá algumas ideias de como o tempo deles se passou e nos dá um parâmetro de como esse tempo pode ser dispendido, nos mostrando as formas tão díspares entre Jim e Aurora. Também mostra como fazemos uso do tempo quando estamos frustrados e como ele pode ser aproveitado com qualidade e propósitos criados por nós.
Um spoiler inevitável é dizer que Jim demostra mais dificuldade de lidar com o tempo e com a solidão do que Aurora. Porém, mesmo na adversidade, havia algo que apenas Jim poderia fazer. Logo ele, tinha a habilidade necessária para desempenhar uma tarefa vital, não só para ele, como para toda a população da nave Avalon. Se o infortúnio de ser acordado não tivesse acometido Jim, ele não conseguiria cumprir com sua tarefa e tudo seria desastrosamente diferente.
Quantas vezes algo nos leva para longe dos nossos planos e ficamos inconsoláveis, ressentidos ou até estagnados por não termos compreensão do motivo daquele acontecimento. Quantas vezes nos perguntamos: Por que eu? Por que comigo? Sem saber que, como Jim, aquela missão exigia exatamente as ferramentas que ele possuía. Frente uma decepção de escala colossal podemos nos revoltar, podemos estagnar e até adoecer, afinal, somos humanos e faz parte de nós a dificuldade de lidar com a frustração. Porém, será que merecemos ter nossa vida, que ainda existe para ser aproveitada controlada por algo que nos passou?
Sem Jim, as coisas seriam diferentes e, sem Aurora, suportar os dias seriam muito difíceis para Jim. Ela precisava dele e ele necessitava dela, nos fazendo enxergar que "a males que podem vir para o bem". Sabe aquela frase que diz: Enquanto há vida ainda há jeito? É desses rearranjos criativos, dessas possiblidades de fazer com o que se tem, essa capacidade intrinsecamente humana de sobreviver "apesar de..." que o filme trata.
Os planos foram perdidos, mas eles ainda tinham um ao outro e uma vida inteira para criar novos projetos dentro desta outra realidade que agora se apresentava a eles, nos fazendo refletir sobre o tempo e que aproveitá-lo ou desperdiçá-lo é uma questão de atitude, de encarar que felicidade não é um destino, e sim uma viagem na qual todos nós somos passageiros. Fazer essa viagem valer a pena, mesmo quando não sai da forma exatamente planejada por nós é um desafio diário de cada um. É preciso topar o desafio.
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Cinthia Regina Moura Rebouças, psicóloga, CRP 23/001197, atende em consultório particular, adolescentes e adultos, com ênfase psicanalítica, em Palmas-TO. Possui MBA em Gestão de Pessoas (FGV), experiência como Docente do Curso de Gestão de Recursos Humanos, trabalha na interseção entre psicanálise e Trabalho. Tem experiência em trabalho com grupos, Avaliação Psicológica, na área Organizacional e na Condução de processos de Orientação Profissional. Acompanhe seu trabalho em: Facebook: facebook.com/empqnasdoses Facebook: facebook.com/daoplaypsi Instagram: @empqnasdoses |
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