Foto: Warner Bros. Pictures / Alma da Festa / Divulgação. |
Quem gostaria de ir a uma festa universitária levando a mãe? Pois bem, isso é algo que Maddie precisou superar em “Alma da Festa” (2018). Maddie está no último ano de faculdade e seus pais a deixaram no campus para iniciar esse último ano. Antes de sair do campus, sua mãe Deanna recebeu um comunicado breve e rápido do esposo dentro do carro quando só os dois já estavam ali. Deanna estava empolgada com uma viagem para Itália que eles haviam programado para os próximos dias, quando Dan solta a bomba: ele quer o divórcio, pois se apaixonou por uma corretora de imóveis bem-sucedida e mais bonita que ela. Deanna fica sem chão.
Deanna é uma mãe e esposa em tempo integral, uma mãe e esposa que fica em casa, alguém que se dedica exclusivamente ao cuidado da casa, dos filhos e do esposo, papel também chamado por algumas pessoas de “dona de casa” ou “do lar”. Por não ser uma atividade financeiramente remunerada, é um papel social pouco valorizado pela nossa cultura e sociedade, sendo visto como algo fácil ou como fazer nada o dia todo. Mas, se fosse contratar profissionais para realizar essas atividades, teriam direito a um salário, carga horária bem definida e direitos trabalhistas – direitos e benefícios que a mãe e/ou esposa em tempo integral não tem –, sendo talvez necessário contratar mais de uma pessoa a depender da quantidade de pessoas e do tamanho da casa. Quando é realizado pela mulher na condição de esposa e/ou mãe, não tem um status de emprego, então não é visto como uma atividade economicamente lucrativa.
Quando decidiu cuidar da filha e se casar com Dan, porque ficou grávida no último ano de faculdade, Deanna combinou junto com Dan que ele iria terminar a faculdade e investir na carreira, já que seria economicamente inviável os dois terminarem juntos a graduação. Enquanto não retornasse a faculdade, Deanna iria se dedicar ao cuidado da filha e da casa.
Assim os anos foram passando, Dan foi se estabelecendo profissionalmente, Maddie foi crescendo e a faculdade de Deanna foi deixada de lado. Muitas mulheres ao assumirem esse papel social, ficando responsáveis pela casa e pelos filhos, dão espaço para o desenvolvimento profissional do esposo, assim ele passa a estar livre para novos estudos, cargos de chefia e até mesmo abrir um próprio negócio. Contudo, nem todos conseguem perceber os sacrifícios que são feitos ao se tomar a decisão de ficar dedicada ao que acontece dentro de casa, dando suporte ao desenvolvimento do cônjuge e dos filhos.
Deanna, mesmo com o pedido de divórcio, não se arrepende de sua decisão, principalmente ao ver a pessoa que a filha se tornou. Porém, gostaria de ter tido a oportunidade de terminar a faculdade e ter trabalhado fora de casa. Com isso, sua decisão após o divórcio é voltar para a faculdade e cursar o último ano. Vê em Maddie e suas amigas de irmandade um ponto de suporte para isso. Maddie estranha, afinal, é a mãe dela, não quer passar vergonha perto da mãe e nem ser envergonhada por ela. Já suas amigas parecem gostar da presença de sua mãe, pendem conselhos, conversam e a carrega para as festas universitárias. Pouco a pouco Maddie vai se acostumando, mesmo sem querer saber muitos detalhes das aventuras da mãe.
Deanna também não quer que a filha passe vergonha, por isso tenta balancear os estudos com as festas. Nas festas, dança, bebe e se diverte andando com a filha e as amigas. Sua casa no momento é o alojamento da universidade, com uma colega de quarto um pouco diferente do que ela está acostumada. Acaba dividindo seu tempo entre a biblioteca e a casa da irmandade, fazendo parte do grupo de amizades, mesmo sem ser uma integrante oficial da casa. Juntas, todas se apoiam para superar dificuldades, manter o foco e se divertir, é claro. Deanna teve a oportunidade de ter a experiência universitária que ela queria e de se reinventar, rejuvenescer sua alma e conhecer pessoas que a acolheram e deixaram ela ter o direito de ter o próprio espaço.
Ser esposa e mãe em tempo integral é um grande desafio. É um trabalho sem fim, que se deixar a pessoa acorda e dorme indo arrumar a casa, os filhos e o esposo. Escolher exercer esse papel na sociedade é um direito da mulher, pois em alguns casos é o que ela gosta de fazer. Já em outros é porque financeiramente é mais dispendioso sair de casa para trabalhar e ter que contratar uma funcionária doméstica, pagar uma creche, uma van escolar, entre outros, a depender do valor de salário que algumas atividades de trabalho oferecem.
Há vários motivos que fazem as mulheres optarem por essa dedicação exclusiva ao lar. O importante é ainda que dedicadas integralmente ao lar lembrem-se de cuidar de si também, de seus sonhos e desejos. Os filhos uma hora crescem e não precisam mais de tantos cuidados. O esposo uma hora aposenta, pede divórcio ou pode falecer, e o cuidado com a casa será diferente.
Deanna se viu sem ter de quem cuidar e acabou cuidado e sendo cuidada pelas amigas da irmandade e a filha. Viveu experiências que não imaginava e descobriu que podia contar com antigas e novas amizades. Algo que para ela mais parecia uma crise de meia idade, acabou se tornando uma experiência inesquecível. A sociedade precisa aprender a valorizar essas mulheres que trabalham e muito, abdicam de muitas coisas para ser o suporte que impulsiona e apoia o crescimento de cada membro da família. Mulheres com sonhos, desejos e vontades! Muitas se sentem realizadas em serem dedicadas ao lar! Reconhecer o que elas fazem é dar a elas o direito de ter saúde, física e mental.
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Sheila Francisca Machado reside em Brasília, é psicóloga clínica, especialista em psicologia clínica e especializada em avaliação psicológica, CRP 01/16880. Atende adolescentes e adultos na Clínica de Nutrição e Psicologia - CLINUP. Atua com a abordagem Análise do Comportamento. Contato: sheila_machado_@hotmail.com Clínica Clinup: clinup.blogspot.com Instagram: @empqnasdoses |
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