Se algo acontecer... Te amo (2020)

7 de maio de 2021

 

Foto: Netflix / Se Algo Acontecer... Te amo / Divulgação.

A maternidade e a paternidade podem chegar na vida de uma pessoa de diversas formas, às vezes planejada, outras vezes de surpresa, mas, independentemente da forma que ela chegue, ela é transformadora. 

Filhos, por menores que sejam, têm a capacidade de ocupar espaços que as mães e os pais nem sabiam que tinham para serem ocupados: choro na madrugada, gargalhadas nas primeiras horas da manhã, coisas espalhadas pela casa, barulho, cantigas... Detalhes que sobrecarregam a vida de contas a pagar, de trabalho, de dores, de cansaço, de cores, de cheiros, de sabores, de sons, de alegrias, de movimento. Um misto de emoções e sentimentos que a sabedoria popular traduziu no jargão: "ser mãe é padecer no paraíso". 

Por mais desafiador que seja ser mãe ou pai, a maior parte desses cuidadores genitores não mudariam essa condição. Entretanto, às vezes essa condição é modificada por uma situação que lhes foge ao controle. Na semana do dia das mães de 2021, o Brasil se chocou com um atentado em uma creche em Santa Catarina que resultou na morte de três bebês e duas mulheres. Tragédia essa que modificou famílias e as obrigou a ficarem face a face com a dor do luto. 

O curta-metragem da Netflix "Se algo acontecer... Te amo" (2020) retrata de forma sensível o luto de um casal que perde sua filha em um tiroteio na escola. Através de uma animação sem falas, o vazio do luto é desenhado, sem cores, sem cheiros, sem sons, com o movimento arrastado pela necessidade ausente do desejo, mas carregada de dor, de cansaço e de falta. 

O luto é carregado de falta que precisa ser simbolizada, ressignificada. A falta da mãe e do pai que perde um filho é tão profunda que a nossa cultura ainda não conseguiu nomear. O filho que perde os pais se torna órfão, mas não existe nome para os pais que perdem os filhos. Maternidade e paternidade são uma condição perpétua, mesmo que dos filhos sejam retirados presente e futuro. 

Às vezes a vivência da perda é muito intensa, e existe um sentimento de que a dor nunca vai passar. Em situações assim, pode ser importante ter o acompanhamento de um profissional de psicologia para auxiliar no enfrentamento do luto.

Com o passar do tempo, as memórias de vida são ressignificadas, as vivências de vida e morte simbolizadas e a dor da perda dá lugar à saudade. A falta vai estar sempre ali, mas a saudade vai permitir que ela viva junto ao desejo e que a vida pulse nos que ficam, iluminada pelas boas lembranças de quem não está mais presente.

As mães e pais que perderam seus filhos continuam sendo mães e pais. A mudança de papel e de vida que os filhos trouxeram para suas vidas modificaram para serem quem eles são. 

Um feliz dia das mães para todas as mães, para as que tem o privilégio do filho presente e para aquelas que tiveram o presente de poderem ser transformadas por seus filhos, mesmo que por um intervalo pequeno de tempo.

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Alyne Farias Moreira, brasiliense do quadradinho, mas refugiada entre a beira do Araguaia e a sombra da Serra Azul. Mãe da Cora Linda, psicóloga, CRP 18/02963, equoterapeuta, professora e palestrante. Apaixonada pelo desenvolvimento humano e por psicanálise.  
Contato: (66) 99224-9686
Instagram@vir_a_ser_Alyne

Um comentário:

  1. Muito oportuno o texto.
    Boa reflexão, nos auxilia a redirecionar o nosso olhar para o ser/estar mãe.

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