Diários de Intercâmbio – contradições entre sonho x realidade

20 de agosto de 2021

 

Foto: Netflix/Paris Filmes / Diários de Intercâmbio / Divulgação.

Bárbara é uma jovem sonhadora de 23 anos que está lutando pelo seu sonho de conhecer o mundo. Para isso, trabalha no aeroporto vendendo revistas, na expectativa de conseguir a comissão da empresa, que é uma viagem. Sua amiga Taila também trabalha no aeroporto, mas para a companhia de táxi. Após uma tentativa falha de atingir a comissão, Bárbara se vê desolada, mas a solução que precisava estava o tempo todo em suas mãos, dentro das revistas que vendia. As duas amigas juntas partem, então, para um intercâmbio nos Estados Unidos no filme “Diários de Intercâmbio” (2021).

Taila confronta Bárbara quando ouve a ideia à primeira vista, já que o modelo de intercâmbio que cabia no bolso das duas era o au pair, quando uma pessoa vai para aprender um idioma em outro pais e morar com uma família para trabalhar para a família e receber um salário. O problema é que Bárbara mora com a mãe e não contribui com as atividades domésticas ou mesma é organizada com as próprias coisas, como daria conta de trabalhar para os outros?

Porém, Bárbara estava tão focada em suas expectativas sobre estar nos Estados Unidos e em reencontrar o ficante americano Brad que não pensa muito nisso. Em sua cabeça, olhar uma criança pequena não era difícil e no tempo livre poderia fazer o que quisesse, conhecer lugares e se encontrar com o namorado estrangeiro. Chegando a casa de Sheryll, descobriu que cuidar de um bebê não era tão fácil e que precisaria de cuidar das atividades domésticas, o que não estava nem um pouco acostumada e a deixava esgotada.

Enquanto isso, Taila não tinha muitas expectativas positivas, pois não falava a língua e muito menos era tão fã assim da cultura dos Estados Unidos. Não se via encaixando lá, mas esperava que fosse estar em uma família para cuidar de uma adolescente. Porém, ao chegar à casa da família que estaria a recebendo, descobriu que eles queriam uma companhia por sentir falta da filha, e que os hábitos alimentares e comportamentos deles eram opostos ao que ela acreditava ser saudável.

Para completar, Bárbara estava esperando aprimorar o seu inglês, mas Taila não sabia falar nada e matriculou as duas na turma mais básica possível. A aula que parecia prazerosa para Taila era entediante para Bárbara. O que era para ser um sonho se tornou uma realidade que nenhuma das duas podiam prever, mas que poderia servir para ambas aprenderem a lidar com adversidades, se abrirem para ideias e situações novas, além de saírem da zona de conforto.

Não é uma exclusividade das viagens internacionais essa questão da contradição entre sonho e realidade. Quando se fala em sonhos, estamos falando de expectativas das mais diversas: o carro dos sonhos, a casa dos sonhos, o relacionamento dos sonhos, e por aí vai. Qualquer momento que desejamos viver e idealizamos pode se tornar um sonho, uns sendo maiores e mais difíceis de se alcançar, já outros sendo menores e mais ao alcance de nossas mãos.

Independentemente do tamanho do sonho, um desejo só é chamado assim quando algo é idealizado. No campo das ideias, ou melhor, na imaginação de cada um pode-se listar uma série de possibilidades para que uma situação aconteça, mas no momento real pode ser que os acontecimentos sejam outros do que se foi pensado anteriormente. Isso é comum quando se trata de grandes mudanças ou grandes acontecimentos que são muito distantes da nossa realidade, pois o que está no campo da imaginação tem limitações de acesso a informação e há a abertura para fantasiar o que se sonha a ser vivido. 

Veja bem, não é que um sonho não possa sair como o imaginado, mas quanto menos contato com o real da situação, mais chances de idealizar o que pode acontecer. No caso do filme, o sonho de Bárbara com o intercâmbio é muito idealizado, pois o contato que ela tem com os países e possibilidades de viagens é o que lê na revista que vende. Os artigos das revistas foram escritos por pessoas que pode ou não ter ido pessoalmente nos lugares ou apenas pesquisado na internet sobre eles. Indo além, a experiência que cada um tem em uma viagem é única, a mesma situação para uma pessoa pode ser maravilhosa e para outra horrível a depender de uma série de fatores, como o quanto uma atividade pode ser prazerosa a cada pessoa.

Então significa que não podemos sonhar? Claro que podemos! Muitos feitos de nossas vidas começam como um sonho, algo que aprece distante ou difícil de se conquistar. Contudo, podemos construir o caminho para que se torne realidade aquilo que apenas se imaginava. A questão é buscar o controle de expectativas e se permitir a abertura para lidar com a frustração daquilo que não saiu como imaginado. Do contrário, o sonho se torna um pesadelo, por não estarmos preparados para aceitar a realidade. 

No primeiro momento, sair da zona de conforto e ter que aprender novas habilidades pode ser difícil, porém, se permitir viver a realidade pode ser uma experiência inesquecível, para Bárbara e para qualquer um que tente isso na vida real, não importa que sonho seja o que está correndo atrás. Apenas aceite o fato de que é impossível controlar tudo o que é necessário para que algo saia exatamente como o imaginado!

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Sheila Francisca Machado reside em Brasília, é psicóloga clínica, especialista em psicologia clínica e especializada em avaliação psicológica, CRP 01/16880. Atende adolescentes e adultos na Clínica de Nutrição e Psicologia - CLINUP. Atua com a abordagem Análise do Comportamento.
Contato: sheila_machado_@hotmail.com
Clínica Clinupclinup.blogspot.com
Instagram@empqnasdoses

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