A guerra em "1917"

9 de fevereiro de 2020

Foto: Universal Pictures / 1917 / Divulgação


O filme “1917” (2019) nos permite entrar em contato com a jornada dos soltados britânicos Schofield e Blake durante um episódio da Primeira Guerra Mundial. Por meio desta narrativa é possível ter reflexões a respeito da vida cotidiana.

Na história, os cabos recebem uma missão de extrema importância e que precisa ser cumprida imperativamente, sem tempo algum para planejamento, organização ou assimilação. A missão urgente consiste em entregar uma mensagem que salvaria seus compatriotas de uma emboscada alemã, sendo necessário percorrer o território inimigo. 

Por meio da narrativa de “1917”, podemos ver a história de dois jovens adultos inseridos em uma experiência desumana e extremamente exigente, que é a guerra, tendo que se haver com as consequências de suas próprias decisões em um terreno incerto. Tão jovens para contar apenas com a experiência e intuição para lidar com um ambiente altamente complexo, longe da tutela de seus superiores e somente com uma diretriz: cumprir a ordem e concluir a missão. Filme este que cumpre a função de contar uma história sobre o homem e não sobre a guerra em si, demonstrando a humanidade por detrás de todas as ações. 

Vendo as cenas de “1917”, é possível perceber o que a guerra faz com o homem enquanto indivíduo ao longo de apenas um dia, quando cada pequeno passo importa. Na história de Schofield, que demonstra contrariedade já de início pedindo calma ao seu companheiro Blaker, ao perceber em primeira análise, que a missão parece impossível de ser concluída, vemos ele percorrendo os obstáculos, indo adiante e fazendo o que tem que ser feito, muitas vezes, deixando de pensar em si.

Em diversos momentos é possível inferir um conflito interno surgindo através da leitura das expressões de Schofield, mas simplesmente não há tempo hábil para seu processamento. A história nos leva a procurar entender suas motivações, o que o faz continuar rumo ao objetivo: a vontade de voltar para casa, a promessa ao companheiro ou o senso de responsabilidade para com sua pátria?

Em analogia à guerra externa, em que impera sobre os militares as demandas urgentes e as exigências do cumprimento da missão, podemos observar também a vivência de uma guerra interna nos protagonistas. Guerra esta que, em menor proporção, corre também em cada um de nós. 

Acontecem tantas coisas na vida cotidiana das pessoas que muitas vezes não há tempo hábil para processar os acontecimentos, ou melhor dizendo, muitas vezes não nos permitimos esse tempo de processamento. Em meio à guerra dos processos internos e externos, nos perdemos sem nem saber por onde vem o ataque, consequentemente não há como se defender. Assim, também observamos que o externo influencia o interno e o interno também pode influenciar o externo. O foco em manter a cabeça erguida e completar a missão é o que mantém as coisas funcionando, porém em condições desgastantes e escassas. A pergunta que vem é: como estamos lidando com nossas “guerras” diárias?

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Cinthia Regina Moura Rebouças, psicóloga, CRP 23/001197, atende em consultório particular, adolescentes e adultos, com ênfase psicanalítica, em Palmas-TO. Possui MBA em Gestão de Pessoas (FGV), experiência como Docente do Curso de Gestão de Recursos Humanos, trabalha na interseção entre psicanálise e Trabalho. Tem experiência em trabalho com grupos, Avaliação Psicológica, na área Organizacional e na Condução de processos de Orientação Profissional.
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