Foto: TriStar Pictures / Melhor é Impossível / Divulgação |
Alguma vez você já disse ou já ouviu alguém dizer algo do tipo "eu tenho TOC porque tenho mania de limpeza, gosto de tudo limpo"? Pois bem, essa é uma visão simplista de senso comum sobre o Transtorno Obsessivo Compulsivo! TOC é outra coisa...
Quem sabe bem disso é Melvin Udall, uma pessoa ranzinza e preconceituosa, que logo nos primeiros momentos do filme “Melhor é Impossível” (1997) já começa a nos mostrar seus comportamentos compulsivos. Depois de se irritar com o cachorro do vizinho, Verdell, entra em seu apartamento e tranca e destranca a porta para cumprir com seu ritual de trancar a porta. Após, vai ao banheiro lavar as mãos em água quente com um sabonete que ele precisa tirar da embalagem para usar e após o uso esse sabonete é descartado na lixeira. No armário do banheiro, várias barras lacradas de sabonete nos mostram que não é um fato isolado o que estávamos observando. Antes da noite acabar, seu vizinho Simon ainda vai tirar satisfação com ele sobre o cachorro, momento esse que temos a oportunidade de perceber bem os comportamentos agressivos de Melvin na hora de se comunicar com outros, assim como seu sofrimento com aquilo que não tem como controlar.
Seus hábitos compulsivos não param por aí. No dia seguinte a discussão com Simon, acompanhamos Melvin indo comer no lugar de sempre, contando os passos que dá, olhando para o chão para não pisar nas linhas da calçada e evitando qualquer tipo de contato com outras pessoas na rua. Ao chegar no local, fica esperando sua mesa habitual desocupar. Apenas uma garçonete, Carol, tem paciência para atendê-lo, mas a falta de habilidade de comunicação de Melvin torna a relação dos dois complicada, gerando conflitos.
Porém a vida é cheia de situações que não temos controle e Melvin parece estar sendo obrigado a enfrentar esse fato quando o apartamento de Simon é assaltado e ele fica internado no hospital. Melvin acaba sendo obrigado a cuidar de Verdell a contragosto, só que aos poucos vai se afeiçoando ao cachorro, ao mesmo tempo que vai ensinado, sem querer, alguns de seus comportamentos compulsivos a ele.
Depois de algumas semanas, Simon sai do hospital e Verdell volta para seu dono. No mesmo dia Melvin vai ao seu psiquiatra e não consegue ser atendido por não ter horário marcado. De lá se dirige a lanchonete e Carol não foi trabalhar. Nesses momentos e em outros do filme podemos perceber o sofrimento que Melvin tem quando sua rotina é quebrada e quando as coisas não saem como o planejado. No seu pensamento obsessivo por manter o planejado, por estar no controle, o dia só será bom se as coisas ocorrerem como sempre, dentro de sua rotina e se ele seguir seus rituais compulsivos. O que o leva a atitudes rudes e intrusivas para recuperar a rotina que lhe diminuía o sofrimento psíquico, afastando quem tenta se aproximar dele por conta de mal-entendidos.
Por estar tão focado em procurar meios de diminuir sua ansiedade, Melvin acaba agindo de forma a ignorar os sentimentos dos outros a sua volta, causando sofrimento aos outros ao mesmo tempo em que aumenta seu próprio sofrimento. Analisando mais a fundo Melvin, encontramos um homem com seus traumas, que criou uma série de regras para evitar sofrer. Por repetir constantemente suas regras, acabou isolado, sem desenvolver uma boa comunicação com os outros e tendo dificuldade de perceber o outro com quem convive. Se abrir para Simon e Carol é um movimento difícil, pois Melvin está acostumado a afastar as pessoas e não a aproximá-las. Mas é justamente o encontro com essas pessoas que traz a Melvin a oportunidades de ressignificar sua vida.
Cada um tem suas dificuldades e no dia a dia acabamos dando novos significados para aquilo que não entendemos muito bem, por vezes julgando antes mesmo de conhecer. Mas é justamente ao tentarmos entender o sofrimento do outro que temos a oportunidade de ressignificar o nosso próprio sofrimento. E quem sabe, pode ser a oportunidade de encontrar nosso lugar no mundo! Assim, entender aquele que sofre abre novos caminhos para entendermos a nós mesmos!
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Sheila Francisca Machado reside em Brasília, é psicóloga clínica, especialista em psicologia clínica e especializada em avaliação psicológica, CRP 01/16880. Atende adolescentes e adultos na Clínica de Nutrição e Psicologia - CLINUP. Atua com a abordagem Análise do Comportamento.
Contato: sheila_machado_@hotmail.com
Clínica Clinup: clinup.blogspot.com
Instagram: @empqnasdoses
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