Foto: Warner Bros. / Cegonhas / Divulgação |
Trabalhar é uma ação importante dentro do universo adulto. É ela que possibilita o prover das necessidades dentro da nossa cultura. Entretanto, dentro da lógica capitalista, as pessoas trabalham cada vez mais para garantir aquilo que acreditam ser necessário.
Com o aumento do tempo dedicado ao trabalho, o tempo dedicado ao convívio familiar diminui. No filme “Cegonhas, a história que não te contaram” (2016), Sarah e Henry Jardim dedicam seu tempo quase exclusivamente ao trabalho, enquanto tentam se revezar para dar atenção a seu filho Nando. Mas, como eles nunca param de trabalhar, mesmo fazendo home office, não conseguem dar atenção ao filho.
Cansado de seus pais nunca terem tempo para ele, pois nunca param de trabalhar, Nando decide encomendar um irmão. Entretanto, ao conversar com os pais sobre isso, eles rejeitam a ideia e voltam ao trabalho. O pequeno Nando, desanimado, resolve procurar algo para brincar no sótão. Lá encontra um velho e empoeirado panfleto de serviço de entrega de bebês pelas cegonhas.
Nando se anima com o panfleto e escreve uma carta para as cegonhas. De acordo com o panfleto, ele precisa ter um campo de pouso para que seja possível as cegonhas realizarem a entrega. No processo de construção desse campo de pouso, Nando acaba envolvendo os pais e conquistando a atenção deles, que acabam deixando o trabalho um pouco de lado para ajudar o filho, mesmo não acreditando que esse campo de pouso será necessário, afinal, todo mundo sabe que as cegonhas não fazem mais entregas de bebês.
A expectativa de Nando era que o irmão tamparia o vazio dentro dele, resolveria sua solidão, lhe daria a atenção e o afeto que ele carecia. Contudo, é quando a família se une para construir o campo de pouso que a falta de Nando vai sendo preenchida. O vazio, a solidão que Nando sentia era dos pais.
Apesar de socialmente as pessoas falarem que irmão é companhia, ele não é substituto parental. Crianças necessitam de presença paterna (ou substituta) cotidiana, não apenas física. Não adianta estar presente fisicamente, mas a atenção estar no trabalho, como acontecia com o casal Jardim. A criança precisa dos pais (ou substitutos) presentes e disponíveis! Devido a outras necessidades não é possível que essa dedicação seja exclusiva, e tudo bem, mas é essencial que os pais (ou substitutos) tenham momentos para se dedicar integralmente ao filho, sem distratores, onde eles possam estar disponíveis e conectados!
A criança necessita de um adulto que exerça função parental, que lhe forneça condições seguras (física e emocionalmente) para que ela se desenvolva, inclusive para que ela construa outros relacionamentos. Até a maneira como a criança vai se relacionar com o irmão é reflexo do seu relacionamento com seus pais.
Para a família Jardim, a construção do campo de pouso é um momento necessário para que os pais de Nando compreendam a importância de dedicar tempo ao filho! Essa experiência vai abrir portas para que eles possam vivenciar outros momentos de afeto e prazer juntos, agora com a família maior.
____________________
Alyne Farias Moreira, brasiliense do quadradinho, mas refugiada entre a beira do Araguaia e a sombra da Serra Azul. Mãe da Cora Linda, psicóloga, CRP 18/02963, equoterapeuta, professora e palestrante. Apaixonada pelo desenvolvimento humano e por psicanálise.
Contato: (66) 99224-9686 Instagram: @vir_a_ser_Alyne
|
Que reflexão positiva e profunda! Amei!
ResponderExcluir