O Rei Leão e a ordem da vida

24 de março de 2020

Foto: Disney / O Rei Leão / Divulgação

Além de ter uma trilha sonora capaz de encantar públicos de todas as faixas etárias e gostos, “O Rei Leão” (2019) nos traz reflexões a respeito da importância da ordem em nossas vidas. 
 
O filme conta a história de Simba, um leãozinho herdeiro de um reino na savana africana. Seu pai, o Rei Mufasa, buscou transmitir seus conhecimentos sobre o funcionamento do mundo e o lugar do rei nele. Dentre esses ensinamentos está o do ciclo da vida, que consiste no movimento natural do mundo em que cada animal tem a sua função e lugar. 

Pode-se perceber esta noção na fala de Mufasa quando diz: “tudo que você vê coexiste em um delicado equilíbrio. Como rei, você precisa entender esse equilíbrio e respeitar todas as criaturas, da formiga ao antílope... Nós comemos os antílopes, mas quando nós morremos, nosso corpo vira mato, e os antílopes comem o mato, então nós estamos todos conectados no grande ciclo da vida”.

Com essas palavras, Mufasa mostra a Simba que a função do rei é preservar o equilíbrio entre todas as coisas. Ao entender o seu lugar no mundo e a ordem natural das coisas, Simba compreende como lidar com as dificuldades, as incertezas e a noção de recomeço. Plantando, assim, por meio de suas palavras, valores como: justiça, disciplina, senso de responsabilidade, organização, preocupação com o bem comum e com a manutenção do ciclo da vida.

Para o jovem Simba, o pai simboliza o modelo ideal que ele almeja se tornar quando crescer, o tipo de pessoa que ele deverá ser.  Uma das coisas que Mufasa o ensina é a olhar para o céu e saber que as estrelas são seus antepassados, pois nos antepassados estão guardadas a história, o conhecimento familiar e os seus referenciais. 

Seu tio Scar, pleiteando a conquista do trono, instiga a curiosidade de Simba, fazendo-o se colocar em uma situação de risco e cair em uma armadilha que o faz crê ser o responsável pelo infortúnio de seu pai. Marcado por esta tragédia, foge o mais longe que consegue e busca esquecer o que ficou para trás, resultando em seu exílio. 

Apesar do pequeno leão ter o potencial para ser rei, ele ainda não passou pelas experiências necessárias para amadurecer e desenvolver as competências necessárias para ser capaz de discernir e agir como um rei. 

Longe de seu reino, conhece Tião e Pumba, seres que adotam o modo de vida do Hakuna Matata, pautado na desordem. Para eles, a vida não é um ciclo, e sim uma linha. Acabou, acabou. Isto os isentam de responsabilidades, uma vez que não existem legados para deixar.  O que os move é apenas a satisfação de seus desejos e impulsos instintivos. Repetindo em qualquer situação: “faça o que deseja fazer”.

Seguindo esses novos preceitos, Simba se desenvolve no esquecimento de sua história, dos valores do seu povo, da ordem outrora reinante e ensinada por seu pai. Apenas fazendo o que deseja, sem se preocupar com o amanhã ou com qualquer responsabilidade, evitando, assim, entrar em contato com a situação traumática vivida em seu passado. 

Enquanto isto, seu tio Scar assume o trono da Pedra do reino, rompendo com o equilíbrio, agindo também conforme seus impulsos e suas vontades, instaurando o caos ao desrespeitar o ciclo da vida. Usando a autoridade de Rei para benefício próprio.

Mas há um chamado da Vida reverberando em Simba, que coloca em seu caminho um reencontro com figuras do seu passado. Nala, sua amiga de infância e Rafiki (ancião). Ao entrar em contato com seu modo de vida, Nala mostra-se decepcionada percebendo que ele estava desconectado dos seus ideais originais e Rafiki o ajuda a se confrontar com a história dos seus antepassados levando-o a perceber que ele pode fazer mais e retomar seu lugar no ciclo da vida.

Ao recuperar a consciência de quem é e seu lugar no mundo, Simba se sente forte o suficiente para resgatar a Pedra do reino e confrontar seu passado - destronar seu tio Scar -, assumir seu lugar no Reino e restabelecer a ordem.

Esta história nos mostra que, muitas vezes, ao ficarmos presos a um evento do passado, podemos ter a impressão de que aquela ocasião define quem somos, parecendo um evento grande ou que nos causa muita vergonha. Ao ter a possibilidade de retomar esse evento, mesmo que através da terapia, somos capazes de ver que, apesar de doloroso, aquilo que vem controlando nossas ações e autopercepção perde o poder sobre nós e libera nosso verdadeiro potencial, nos fazendo reconhecer que podemos mais, que somos mais fortes, permitindo o encontro do nosso lugar no ciclo da vida, restabelecendo assim a noção de ordem. 

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Cinthia Regina Moura Rebouças, psicóloga, CRP 23/001197, atende em consultório particular, adolescentes e adultos, com ênfase psicanalítica, em Palmas-TO. Possui MBA em Gestão de Pessoas (FGV), experiência como Docente do Curso de Gestão de Recursos Humanos, trabalha na interseção entre psicanálise e Trabalho. Tem experiência em trabalho com grupos, Avaliação Psicológica, na área Organizacional e na Condução de processos de Orientação Profissional.
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