PK, reflexões sobre religiosidade

28 de abril de 2020

Foto: UTV Motion Pictures / PK / Divulgação

O filme PK (2014) fomenta muitas reflexões sobre religião e o conceito de Deus ou divindade. Trata-se de um extraterrestre que chegou na terra e logo de cara teve o seu colar verde roubado. Esse colar era um tipo de controle remoto e era o único meio de retornar para a sua espécie. O inocente alienígena, cujo nome é PK, começa uma busca desesperada e incansável atrás do seu colar. Durante essa busca ele se depara com muitas pessoas que o orientam a pedir ajuda à Deus para encontra-lo. O curioso é que essas pessoas parecem fazer uma prescrição tão mecânica, como se fosse até um ditado popular quando alguém está aflito. Notamos essa tendência natural das pessoas mencionarem Deus sem muita cautela ou de forma superficial, recorrendo por vezes a objetos considerados divinos.

É comum algumas pessoas se apegam a uma simbologia para entender melhor sua existência e tentarem se achegar até uma divindade.  Assim, o filme retrata bem as diferenças, bem como as semelhanças entre diferentes religiões. Isso pode gerar angústia para muitas pessoas e um anseio por finalmente encontrar a religião “CERTA”. É muito comum que os membros de determinada religião a defendem como a correta e logo aquela busca por uma conexão com Deus passa a ser substituída pela alienação e pela defesa de uma ideologia religiosa.

Em sua jornada, PK chega à conclusão que não havia um só Deus, mas vários deuses, cada um com suas regras. Ele começa a se questionar sobre qual era a sua religião e qual era o seu Deus. Essa busca por um sentido espiritual pode algum dia perpassar a vida de todos nós, e, assim como fez o personagem do filme, ela é muito individual e particular. PK resolveu cultivar todos os deuses existentes e a seguir todos os rituais de todas as religiões possíveis, o que demonstra o quanto ele realmente estava aberto a ter uma experiência divina, despindo-se de julgamentos ou preconceitos.

Depois de tantas tentativas fracassadas, o personagem começa a entregar panfletos nas ruas e cola-os por todos os cantos, dizendo: “procura-se Deus”. Em sua busca, usa um capacete amarelo como um indicador, para que Deus o reconheça no meio da multidão. Muitas pessoas entendem a religião como uma bússola, algo que dá sentido a existência e como uma ferramenta na qual ela pode se agarrar em tempos difíceis, principalmente. De fato, essa função pode ser muito válida para muitas pessoas. Contudo, suscito a reflexão sobre diferenciarmos “religião” de “religiosidade/espiritualidade”. O filme mostra claramente a diferença entre esses termos. O primeiro é como uma instituição que, para funcionar, precisa de dogmas, rituais, entre outros. O segundo, por sua vez, é algo muito mais particular, sem um protocolo ou uma prescrição definida. Trata-se de um caminho singular que cada um vai traçar a procura desse sentido. 

Um exemplo das questões já levantadas está em um determinado momento do filme, quando PK observa uma amiga passando um trote para alguém e desperta: “Agora eu entendi! Alguém está passando trotes! Parece que as linhas telefônicas para Deus foram destruídas. Sempre achei estranho que o verdadeiro Deus desse ordens tão esdrúxulas. Que pai diria isso para um filho?” (e aí ele menciona alguns rituais). Sua amiga então pergunta: “E se as ligações fossem para o verdadeiro Deus, o que ele diria?”, e PK responde: “Certamente Deus diria: “Milhões de pessoas morrem de fome na rua, ajude-as”. Eu acho essa cena sensacional e muito reflexiva.  

O filme ainda traz diversas outras críticas extremamente inteligentes sobre como rotulamos as pessoas e as religiões e sobre várias outras temáticas. A forma como acontece o desenrolar do filme é sempre muito divertida, engraçada e, além disso, suscita muita reflexão. O mais interessante do filme é que incentiva o questionamento, ao invés de simplesmente aceitar de forma automática cada ensinamento ou doutrina. A ideia do filme não é criticar nenhuma religião, tampouco criticar a fé ou a cresnça de cada um. Pelo contrário, o filme incentiva a busca por um ser superior particular, um Deus além daquele que é passado como um manual de instruções. A proposta é ir além, é encontrar e construir um conceito de divindade que faça sentido para cada um de nós. Cabe ressaltar que na psicologia, levamos em conta e respeitamos todas as diferenças, incluindo as de cunho religioso. Assistam ao filme e tirem suas próprias conclusões e se desejarem, compartilhem sobre suas ideias e impressões com a gente. Será muito válido e enriquecedor saber sobre o seu ponto de vista.

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Ana Caroline Neres é Psicóloga Clínica, Pós graduanda em Análise do comportamento, CRP 01/21533. Atende crianças, adolescentes e adultos na Clínica de Nutrição e Psicologia - CLINUP. É autora do livro: #Ficaadica.  
Clínica Clinupclinup.blogspot.com
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