Foto: Disney / Capitã Marvel / Divulgação |
Resumo:
Capitã Marvel, parte do exército de elite dos Kree, uma raça alienígena, encontra-se no meio de uma batalha entre seu povo e os Skrulls. Ao tentar impedir uma invasão de larga escala na Terra, em 1995, ela tem memórias recorrentes de uma outra vida, como Carol Danvers, agente da Força Aérea norte-americana. Com a ajuda de Nick Fury, Capitã Marvel precisa descobrir os segredos de seu passado e pôr um fim ao conflito intergaláctico com os Skrulls. (Direção: Anna Boden, Ryan Fleck.)
Para quem assistiu ao filme Capitã Marvel (2019) é provável que alguns possam ter pensado: “Mais um filme de herói com final feliz e um tanto quanto previsível”, ou até mesmo: “mamão com açúcar” – jargão comum que as pessoas usam para classificar filmes. Pensando em um sentido mais profundo, percebo que as intuições, ideias artísticas e de entretenimento, por mais simplórias que possam parecer, sempre proporcionam elementos para refletirmos a respeito. E dessa reflexão surge uma pergunta: O que esse filme diz da natureza humana?
Poderíamos destacar muitos pontos importantes de cunho psicológico nessa história, mas o que mais chama a atenção é a importância do resgate da história de vida de uma pessoa, da função da memória para a constituição do ser e do grande chamado para o encontro consigo mesmo, que dá início a essa jornada do Herói.
É bem perceptível que Carol Danvers apresenta habilidades e talentos desde o início do filme – luta bem, demonstra fagulhas de um poder que outros personagens não demonstram. Mas ela se apresenta esbarrando-se em dificuldades, alguns sintomas conhecidos por muitos: insônia; impulsividade; reagir pelo calor da emoção; dúvidas constantes a respeito da sua própria história; e falta de clareza.
Observa-se que mesmo parecendo bem-sucedida, com bom emprego e alguns amigos, as inquietações de Carol são consequências da falta de conhecimento de si mesma. E para isso o autoconhecimento é fundamental, para que se aperfeiçoe o discernimento e torne mais claro o motivo gerador das inquietações e a coloque em contato com circunstâncias que promoverão a sua constituição como heroína.
Carol Danvers entra em contato com ela mesma em um formato de “Inteligência Suprema” que se pode entender como o nível de consciência dela naquele momento, mas as informações que ela obtém dessa “consciência” se apresentam com um sentido “enganoso”, com pensamentos e crenças que confundem, geram dúvidas e medo, e minguam, consequentemente, o seu potencial, vontade e a autoestima. Enquanto ela se vê dominada por isso, ela se sente fraca, incapaz, agindo de forma imatura e emocional.
Somente quando ela, após tantos fragmentos de sua história virem à tona, se vê na necessidade de reconstruir em si a própria história, e entra em contato com valores internos importantes como – amizade verdadeira, sentimentos nobres, como o carinho de pessoas queridas de seu passado, lembranças de todas as quedas que ela teve nos desafios da vida, chacotas e momentos vergonhosos, mas que em todas as vezes ela se levantou; somente aí ela tem a clareza de que a nobreza e o potencial de seu ser não estava em quantas vezes ela caiu e no que as pessoas disseram e duvidaram dela, mas sim, em todas vezes que ela se levantou, não desistiu e continuou. Um exemplo claro de uma máxima que conhecemos “Levanta-te e anda”. E neste momento que ela se resgata dela mesma, se encontra com um potencial que estava adormecido em si e com isso pode combater as demais adversidades de sua jornada que assolavam e ela e as suas pessoas queridas.
Os indivíduos em um sentido geral vivenciam dificuldades emocionais que muitas vezes dão sensação de looping na cabeça, (re)vivem fragmentos do passado que, como âncora, vez ou outra martelam na lembrança como um chiclete que gruda e causa angústia, dificuldades de relacionamentos, e muitos outros conflitos que distanciam a pessoa dela mesma, e da essência valorosa e poderosa que tem.
Chega um momento em que se faz necessário conhecer a origem, saber quem somos, encontrar o sentido para viver e o conhecimento que nos revelará aquilo que somos e porque somos assim – aqui começa o chamado que o Herói recebe para encarar sua missão. Até perceber que de alguma forma é necessário sair da pequena zona de conforto que vivemos e percorrer caminhos longos que nos trazem respostas – partir do nosso lugar de origem, juntar as peças do passado, romper com ele e decidir encarar o presente em busca das provas que potencializarão nosso poder de “ser”.
Nos momentos de grandes adversidades em que os vilões parecem ser maiores, na verdade, eles são apenas pequenos coadjuvantes de uma história heroica, que mais cedo ou mais tarde, nos conduzirá a um despertar para o autoconhecimento que proporcionará o enfrentamento das dificuldades com coragem, generosidade e amor próprio. Com isso poderemos constatar o final feliz que cada filme e histórias de heróis nos mostram, que é a demonstração do autodomínio, a sábia aplicação das virtudes, e a vitória de um em prol de toda uma nação.
No nosso cotidiano, na batalha diária da vida, o final feliz se dará a cada dia pela prevalência dos pensamentos e sentimentos positivos e do que é mais elevado no Ser - as virtudes, a felicidade por aquilo que já conquistamos, as práticas para uma boa saúde e para o bem-estar. Cada gota de suor em prol de se fazer herói revelará a verdadeira essência do ser e beneficiará toda uma nação, que serão todos aqueles que estarão por perto comemorando juntos a vitória de Um Herói - que pode ser você.
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Adriano Pereira, graduado em Psicologia e pós-graduado em Teorias Psicanalíticas. Atua como psicólogo clínico em Brasília. Contato pelo e-mail: adrianopbeserra@outlook.com |
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