Foto: Netflix / Por Lugares Incríveis / Divulgação |
Violet é uma adolescente que desfrutava de uma vida praticamente perfeita. Mesmo considerando a adolescência uma fase turbulenta, Violet cumpria os requisitos que a faziam merecer todas as boas regalias desta fase: era boa filha; melhor amiga de sua irmã; tirava boas notas na escola; pertencia a um grupo de amigos e gostava de escrever poesias.
Mas, de um momento para outro, toda aquela qualidade de vida a qual ela se beneficiava deixa de fazer sentido quando, ao sair de carro em companhia da irmã, elas sofrem um acidente e ela perde fatalmente sua irmã e melhor amiga, sendo a única sobrevivente. E, então, emerge toda temática psicológica desta trama como: a própria adolescência em si, luto, depressão, suicídio e uma série de sintomas pós-traumáticos.
Violet rompe sua relação com o mundo, afastando-se afetivamente dos pais e dos amigos, que buscam de toda forma trazê-la de volta para vida de antes, sem fazer ideia da dor e do sofrimento que ela carregava e, principalmente, da culpa que sentia, pois, viver a própria vida e “agir como se nada tivesse acontecido” seria equivalente a esquecer a irmã e o desagradável sentimento de injustiça por ter acontecido com ela tal infortúnio.
Vivendo em uma atmosfera de luto e trauma, confinada em seu drama pessoal, no dia do aniversário de sua irmã, movida por seu sofrimento Violet retorna ao local do acidente, em uma ponte. É quando sua vida se cruza com a vida de Theodore.
Theodore aparece como uma pessoa opaca, que ninguém sabe bem o que se passa com ele e quais são suas motivações. Ele é um adolescente que não conta com a presença de seus pais e as coisas na escola não estão muito boas. Enquanto na escola há tantos acontecimentos, emoções e descobrimentos, ele faltava aula com frequência, agindo em busca de respeito. Seu comportamento é diferente dos outros adolescentes que o classificam como estranho, ou melhor dizendo como uma aberração. Os constantes sumiços, as reações ora agressivas ora impulsivas e a compensatória atitude mágica de buscar fugir do obvio o torna uma pessoa complexa de compreender.
Coincidentemente, Violet e Theodore estudam na mesma sala, e quando o professor de geografia demanda um trabalho que consiste em visitar lugares incríveis da cidade onde moram, Theodore não hesita em convidar Violet para ser sua dupla no trabalho. Conforme a história se desenrola vemos Theodore, de forma criativa, cativar Violet e, aos poucos, Violet se abre para as experiências propostas por Theodore.
Ele continuamente repete o lema de “estar acordado” e, assim, consegue acessar o mundo de Violet, sensibilizando-a para a necessidade de viver o hoje. Através desta história conseguimos perceber que Violet, apesar de entender que o falecimento da irmã não é uma sentença de morte para ela e que a vida não terminou para ela também, ainda está em um processo de descoberta de si e muito voltada para suas próprias coisas sem conseguir em tempo hábil perceber o sofrimento também presente na vida de Theodore, sem conseguir enxergar que ele precisa de ajuda.
Este filme mostra duas pessoas com adoecimentos diferentes e que não tem culpados presentes. Não sabemos há quanto tempo a depressão está na vida de Theodore ou o que o levou a adoecer, mas conseguimos ver que, na presença do sofrimento, cada pessoa reage de uma forma ímpar e, muitas vezes, a pessoa que mais parece bem, não está. É um convite a reflexão de que não sabemos o que se passa dentro do outro e muitas tragédias ainda ocorrem por falta de pedido de ajuda, e quanto o pedido ocorre nem sempre é da forma que esperamos receber.
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Cinthia Regina Moura Rebouças, psicóloga, CRP 23/001197, atende em consultório particular, adolescentes e adultos, com ênfase psicanalítica, em Palmas-TO. Possui MBA em Gestão de Pessoas (FGV), experiência como Docente do Curso de Gestão de Recursos Humanos, trabalha na interseção entre psicanálise e Trabalho. Tem experiência em trabalho com grupos, Avaliação Psicológica, na área Organizacional e na Condução de processos de Orientação Profissional.
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