A Partida (2008) - reflexão sobre vida e morte

21 de julho de 2020


Foto: Paris Filmes / A Partida / Divulgação

A partida é o fio condutor para a reflexão importantíssima sobre nossos laços, sobre a vida e a morte podendo assim repensar o sentido que damos ao dia a dia. Neste filme japonês acompanhamos a história de Daigo Kobayashi, um homem que cresceu longe da presença do pai. E que recentemente perdeu a mãe e sua vaga como violoncelista de uma orquestra. Como músico, ele sente dificuldades de conseguir um novo posto em sua área necessitando procurar novas alternativas para seu sustento. Decidiu então, vender seu instrumento profissional e mudar-se para cidade na qual a mãe morava, sua cidade natal. 

Mesmo que o tema seja tudo aquilo que não deseja ouvir e muito menos se preparar, morrer é fato inquestionável, mas constantemente negado. É uma experiência única, pessoal e intransferível. Passa-se a vida escondendo a doença, a decrepitude e a decadência, especialmente das crianças. A finitude da vida é um assunto tratado de forma muito reduzida, na maioria das culturas. E podemos ver isso na experiência do próprio Daigo que, ao se mudar para a casa deixada pela mãe que morreu há dois anos, encontra uma fonte de renda em uma suposta agência de viagens. Ao chegar lá, constata se tratar de uma vaga para trabalhar preparando o corpo das pessoas que já morreram para sua derradeira viagem. 

Sem nunca ter participado de um velório, ele aceita o trabalho atraído pela possibilidade de uma boa renda, mas esconde das pessoas conhecidas e de sua mulher por considerar o trabalho vergonhoso e pouco aceito socialmente. Ao contrário do trabalho de Violoncelista, que é considerado um bom trabalho. 

Ao opor-se a assumir socialmente seu trabalho, nega também sua dificuldade de lidar com a morte e aceitar a finitude da vida. Daigo considera que a vida o está colocando "a prova" por não ter podido comparecer ao enterro da mãe. Ele volta-se, então, para a música e para o "lugar que poderia obter conforto", seu Violoncelo. 

Com o passar do tempo, ele se acostuma com o trabalho, mas as pessoas da sua cidade continuam o repreendendo e considerando o trabalho indigno. Justo no momento que Daigo busca compreender a morte para além do trabalho, sua esposa descobre sua farsa e coloca fim na relação, com a condição de que ele mude de trabalho. Sem a esposa, ele volta sua energia para a música e para o trabalho. Assim ele tem a oportunidade de entrar em contato com um lado diferente da sociedade, a parte humana das pessoas, sua relação com o luto e o morrer.   

Quando a possibilidade da paternidade coincide e com um telegrama informando o falecimento do próprio pai, o relacionamento conflituoso com pai ressurge de forma decisiva. Mesmo apresentando resistência ele decide ir prestar honra ao pai preparando-o para a última viagem. Neste momento Daigo encontra uma pedra que ele havia dado ao pai quando criança que era símbolo do sentimento que tinha pelo pai, compreendendo assim que estivera no coração do pai até o último momento. Era hora de perdoar as escolhas do pai. 

Essa bela história possibilitar a reflexão de que perdoar é uma oportunidade aberta a todos, que não se consiste em esquecer, mas sim em ressignificar os fatos podendo assim, mudar sua visão dos acontecimentos a ponto de eles não controlarem mais seus passos. A vida não tem receita pronta, é preciso construir o caminho através dos nossos próprios passos. 

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Cinthia Regina Moura Rebouças, psicóloga, CRP 23/001197, atende em consultório particular, adolescentes e adultos, com ênfase psicanalítica, em Palmas-TO. Possui MBA em Gestão de Pessoas (FGV), experiência como Docente do Curso de Gestão de Recursos Humanos, trabalha na interseção entre psicanálise e Trabalho. Tem experiência em trabalho com grupos, Avaliação Psicológica, na área Organizacional e na Condução de processos de Orientação Profissional.
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