Os Fantasmas de Scrooge (2009)

22 de dezembro de 2020

 

Foto: Disney / Os Fantasmas de Scrooge / Divulgação

Consideremos que as pessoas que passaram por nossas vidas têm alguma influência em nossa visão de mundo: testemunhas de nossa história, personagens de nossas lembranças, motivos de afetos e aversões, pessoas que marcaram a nossa vida de alguma forma por excessos ou faltas, afinal, somos seres sociais e nossas experiências, de certa forma, marcam a percepção que temos de nós, da nossa história e do mundo. 

Na vida de Ebenezer Scrooge não era diferente. Ele levava sua vida baseado nas representações mentais que tinha das pessoas e do mundo, ideias essas que eram em sua maioria, negativas. Então, não poderia ser diferente que, para ele, o mundo fosse um lugar perigoso, injusto, cheio de pessoas ruins e aproveitadoras, refletindo essa visão de mundo também em sua relação com o dinheiro. Era avarento ao extremo e considerava o pecúlio mais importante do que qualquer coisa ou experiência. 

Era difícil para Scrooge até mesmo confiar nas pessoas e tê-las próximas de si, mesmo os parentes não eram vistos como dignos de compartilhar de sua intimidade. Assim, buscando racionalizar e monetizar todas as relações como se elas fossem apenas trocas comerciais em que ele deveria evitar ser explorado, objetivo número 1 das pessoas em relação a ele, segundo sua visão. 

Algumas pessoas são assim, buscam uma economia emocional evitando gastar energia, até mesmo pensamentos em relação a desejos, poupando todos os recursos a fim de escapar de uma futura escassez ou por medo de precisar depender de outra pessoa. Evitando encarregar-se de algo que não vá render emocionalmente mais do que investido, o que na maioria das relações humanas acontece em algum momento por não ser algo que possamos controlar.  

Fazer de tudo para não perder tempo também era algo essencial para Scrooge, ele não tinha tempo para distrações ou para divertimentos. Também não acreditava em paixão ou na necessidade do Natal, tida como uma data de tolos, irracional e sem motivo de existir. 

Um dia, as vésperas de Natal, Scrooge estava a caminho de casa, aonde morava totalmente só, quando recebe a visita de seu antigo sócio, falecido há 7 anos. Homem de mente materialista, pessoa prática e lógica que ele é nem mesmo acreditava em fantasmas. Para ele, não é possível confiar em seus sentidos, pois eles são, como de todas pessoas, falhos. É possível crê apenas naquilo que é fruto da racionalidade. 

Porém, seu ex-sócio consegue ser bem convincente, a ponto de Scrooge levar a sério o que ele diz e até reparar nas correntes que ele carrega questionando o ex-sócio sobre o motivo delas. A explicação do sócio é que elas são consequências da vida dedicada apenas para coisas materiais e aos negócios, da vida desperdiçada. Mostrando a Scrooge que o motivo de sua visita é evitar que o destino pós-morte de Scrooge seja igual ao dele, mas, para isso, seria visitado por 3 fantasmas: o do Natal passado, o Natal presente e os Natal vindouro. 

Conforme advertido pelo sócio, a primeira visita é do "fantasma do natal passado", que o leva em uma viagem de volta a sua infância, aonde encontram um menino rejeitado pelos outros e deixado pela família para passar o natal sozinho na escola, durante vários anos. Nesta experiência, relembra de sua relação com a irmã e de seu antigo amor.

Quando recebe a segunda visita, mostra-se aberto a experiência que lhe impuseram a visita do "fantasma do natal presente". Este o leva para ver o mundo dos homens pela perspectiva celeste, possibilitando uma reflexão de seus atos no presente em relação a seu sobrinho e a seu empregado.

Mesmo diante da presença do "fantasma do natal vindouro", Ebenezer tenta assumir o controle dizendo que já entendeu que está recebendo uma lição, então prefere receber logo, pois não tem tempo a perder, colocando-se de forma passiva em relação as reflexões de sua vida, como se o fantasma fosse o único responsável por fazê-lo refletir sobre algo que ele mesmo não tinha necessidade. Porém, ao presenciar o seu fim, Scrooge promete ao espírito que caso tenha tempo de vida para praticar ações que levem a outro desfecho, ele será uma pessoa melhor.  

Este conto de natal nos possibilita pensar sobre nossa visão de mundo e a perceber que a vida é uma oportunidade diante de nós. Scrooge teve uma segunda chance de recuperar o tempo e de se permitir ser generoso com os que precisam, a ajudar o seu empregado e a construir relações significativas. Através da visita dos 3 fantasmas, refletiu sobre sua história de vida e percebeu que, baseado em suas mágoas, temores e visão de mundo, tinha tornado sua própria vida miserável fechando-se para coisas que tinham significado e prazer para ele.  

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Cinthia Regina Moura Rebouças, psicóloga, CRP 23/001197, atende em consultório particular, adolescentes e adultos, com ênfase psicanalítica, em Palmas-TO. Possui MBA em Gestão de Pessoas (FGV), experiência como Docente do Curso de Gestão de Recursos Humanos, trabalha na interseção entre psicanálise e Trabalho. Tem experiência em trabalho com grupos, Avaliação Psicológica, na área Organizacional e na Condução de processos de Orientação Profissional.
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