Foto: Netflix / Dia do Sim / Divulgação. |
Allison e Carlos viviam uma vida baseada no “sim”, sim para novas experiências, novas pessoas, novas vivências. Mas tudo mudou quando vieram os filhos. O “não” passou a ser a nova regra. Atualmente com 3 filhos, a mais velha Katie de 14 anos, o do meio Nando de 11 anos e a caçulinha Ellie, os papéis em casa são bem definidos. Carlos passa o dia no trabalho, e quando está em casa evita a todo custo dizer “não” para os filhos passando a responsabilidade para Allison. Enquanto isso, Alisson busca recolocação profissional compatível com a responsabilidade solo de criar e educar os filhos, mesmo sendo casada e morando com o pai deles.
O choque de realidade veio quando Allison descobre que os filhos a veem como uma ditadora e, seguindo uma sugestão do orientador escolar, Allison decide instituir o "Dia do Sim". O dia do sim é apresentado a Allison e Carlos como uma forma de repensar o estilo parental do casal. Não é que não existam regras no dia do sim, mas as regras são mais abrangentes e permitem aos filhos terem oportunidade de fazer aquilo que normalmente não podem. Porém, o tão esperado dia tem que ser merecido, com bom comportamento e boas notas no dia a dia. É ao conquistar o direito ao dia do sim que Katie, Nando e Ellie decidem as regras por 24 horas, com direito a decidir a roupa dos pais, o café da manhã, entre outras atividades do dia, e também se separam com as responsabilidades que acompanham o direito de decidir.
O filme “Dia do Sim” (2021) abre espaço para algumas reflexões sobre a parentalidade. Ser pai e ser mãe inclui, entre outros cuidados, o de pôr regras sobre o que é permitido e o que não é permitido dentro do ambiente familiar. É através desses limites que os responsáveis por exercer o papel de cuidado têm oportunidade de passar para os filhos valores, princípios e tradições familiares. Além disso, a família representa uma parcela micro da sociedade, logo é através dela que se inicia o entendimento da criança sobre várias questões envolvidas nas vivências sociais.
Justamente pela importância da parentalidade para o desenvolvimento de pessoas saudáveis e capazes de viver em sociedade que, infelizmente, em diversas culturas, há um julgamento acerca do estilo parental. Julgamentos esses que são reforçados muitas vezes por outras pessoas que exercem a parentalidade e também pelos próprios filhos. Exercer o papel de pai ou mãe infelizmente é esbarrar com uma série de julgamentos sobre como seria o jeito “correto” de se criar filhos.
Não existe um manual de instruções que funcione como uma receita de bolo. Como cada família tem um conjunto de valores, princípios e tradições particulares, o que é visto como positivo para uns pode ser visto como negativo para outros. No filme, quando Allison e Carlos ouvem o conselho do orientador escolar, a ideia de um dia dizendo sim para tudo que os filhos pedem parece fora de cogitação, já que eles veem como a função parental serem os únicos a decidirem regras. Em um segundo momento, o dia do sim só é adotado por Allison ver como uma forma de mudar a visão dos filhos sobre ela enquanto mãe.
Uma percepção que muitas vezes os filhos não têm é que ser adulto é lidar com uma série de limites. Allison e Carlos por entenderem isso estabeleceram muitos limites para os filhos. E quanto mais velhos, mas os filhos têm vontade de testar os limites que os pais colocaram. Acompanhar os filhos testando limites é outra tarefa da parentalidade. É normal os filhos questionarem esses limites, até mesmo por conviverem com outras pessoas da mesma faixa etária que vão ter alguns limites diferentes. No caso do filme, Katie quer ir para uma festa, mas Allison teme que a filha ainda não tenha a maturidade suficiente para ir. E como resolver o impasse? Através de orientação e negociação.
Mas até a orientação e negociação é um desafio, tendo em vista que para cada faixa etária há a necessidade de uma adaptação em como isso vai ser feito. A criança tem demandas diferentes do adolescente. A aceitação do crescimento dos filhos e de que alguns limites precisam ser revistos é um fator modificador do exercício da parentalidade.
Não é fácil exercer a parentalidade! É um processo único e às vezes solitário. A parentalidade solo é uma realidade nas mais diversas configurações familiares. Ser pai ou mãe solo não diz respeito a um estado civil, mas em como é dividido a responsabilidade do cuidar. Em algumas famílias mesmo os pais não tendo relacionamento conjugal e morando em casas separadas o cuidar é compartilhado. Em outras situações, como é o caso da família Torres, existe união cível e conjugal, mas a parentalidade recai sobre uma das partes.
Outro fator que contribui para a vivência da solidão parental é a sociedade cada vez mais preocupada em julgar ao invés de compreender, em competir ao invés cooperar. Trocar experiências sobre o assunto é algo positivo, desde que seja realmente uma troca, com empatia e respeito de todas as partes, algo parecido com o que o orientador procurou fazer com Allison e Carlos, mas que infelizmente pode ter sido uma experiência negativa para o orientador que durante o diálogo foi julgado, mesmo posteriormente a família tendo seguido sua orientação. A parentalidade em si já pode ser cheia de inseguranças e auto julgamentos.
A visão que os filhos criam dos pais já pode ser bem diferente do que os pais gostariam de passar. Vamos dizer sim para a empatia, por favor, um pouco de compreensão sempre cai bem! E essa compreensão tem que começar no seio da família, com os pais se apoiando e se responsabilizando de forma igualitária pelos filhos. Mesmo que se alcance uma divisão de tarefas e carga mental de cinquenta - cinquenta ainda será pesado, e eles vão precisar de apoio social para se manterem saudáveis e exercerem suas parentalidades, e é aí que entra a rede de apoio, escola, avós, vizinhos, babá, padrinhos todos alinhados para a criação dessas crianças.
Parentalidades não é apenas dizer "sim" ou "não", apesar disso fazer parte, mas principalmente é sobre ser responsável sobre as consequências dessas falas em todo um processo de desenvolvimento de um ser humano.
____________________
Alyne Farias Moreira, brasiliense do quadradinho, mas refugiada entre a beira do Araguaia e a sombra da Serra Azul. Mãe da Cora Linda, psicóloga, CRP 18/02963, equoterapeuta, professora e palestrante. Apaixonada pelo desenvolvimento humano e por psicanálise. Contato: (66) 99224-9686 Instagram: @vir_a_ser_Alyne |
Sheila Francisca Machado reside em Brasília, é psicóloga clínica, especialista em psicologia clínica e especializada em avaliação psicológica, CRP 01/16880. Atende adolescentes e adultos na Clínica de Nutrição e Psicologia - CLINUP. Atua com a abordagem Análise do Comportamento. Contato: sheila_machado_@hotmail.com Clínica Clinup: clinup.blogspot.com Instagram: @empqnasdoses Facebook: facebook.com/daoplaypsi |
Nenhum comentário:
Postar um comentário