O Poço

21 de abril de 2020

Foto: Netflix / O Poço / Divulgação

Em tempos de Pandemia, o desespero tem alimentado o egoísmo de muitas pessoas. As filas nos mercados, as prateleiras vazias, refletem bem esse espírito primitivo de sobrevivência, que visa olhar somente para o próprio umbigo, ao invés de priorizar a manutenção da espécie. A lógica egóica do "Farinha pouca, meu pirão primeiro" é sustentada pela ignorância e alimentada pelo sentimento de autocuidado, quando na verdade, sabemos que se faltar recursos de proteção e de higiene para o outro, de alguma forma isso vai ser refletido em nós também.

No filme "O Poço" (2020) lançado recentemente pela Netflix, podemos ver de forma crua, fria e assustadora, esse movimento individualista e a forma como ele afeta os personagens. Todos estão no mesmo poço, em níveis diferentes, mas sobrevivendo de acordo com as mesmas regras. Existe uma aparente hierarquia e, quem pensa que está em cima, no dia seguinte pode estar em baixo. Um dia se lambuzam com as melhores iguarias, sem se preocuparem que outros irão passar fome, sendo que dias depois, o estômago vazio é daquele que teve a oportunidade de saborear um banquete e, assim o fez, mas não compartilhou. Dias depois, a pessoa vira o prato principal. Apesar de não sermos literal, devoramos uns aos outros de diversas maneiras diferentes.

"Existem três tipos de pessoas: As de cima. As de baixo. E as que caem."

A crítica social presente nesse filme é essencial para nossa reflexão nesses tempos tão sombrios, onde cada dia fica mais gritante a necessidade de uma maior conscientização, solidariedade, cuidado e respeito com o próximo. Esse é um momento em que pensar nos outros, agir em prol da coletividade, é questão de sobrevivência. É vital.

O fundo do poço é diferente para cada pessoa. E a mensagem que temos que levar é que o sistema nunca vai mudar se não mudarmos primeiro. Subiremos de nível, desceremos de nível, mas permaneceremos reféns de toda crueldade dessa engrenagem individualista que tem como gasolina o nosso suor, nossas lágrimas e, muitas vezes, o nosso sangue.

Somos sujeitos singulares, mas fazemos parte de uma sociedade plural. Então fique em casa e aproveite para assistir esse filme sensacional.

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Caroline Queiroz Souza é graduanda do nono semestre do curso de Psicologia da Faculdade Unime Salvador. Estagiária de ênfase em saúde, sob orientação psicanalítica, da clinica-escola de Psicologia da Unime Salvador. Atuou como Monitora da extensão Clínica das Psicoses pelo período de um ano (2019).
Instagram: @shecaroli

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