O Céu da Meia-Noite – a luta para atingir um objetivo

12 de janeiro de 2021

 


Foto: Netflix / O Céu da Meia-Noite / Divulgação.


O que você sacrificaria por um objetivo? No drama de ficção científica “O Céu da Meia-Noite” (2020), Augustine Lofthouse é um astrônomo que dedicou sua vida inteira a profissão. Ainda jovem, através de seus estudos, descobriu que a lua K-23 de Júpiter poderia ter as condições necessárias para a vida dos seres humanos, sendo uma possibilidade de segunda casa. Agora, em 2049, a três semanas ocorreu um evento catastrófico e o Observatório Espacial no Ártico em que estava começou a ter seus residentes realocados para abrigos subterrâneos, pois a vida em cima da Terra já não era mais tão adequada a sobrevivência humana. Augustine fica para trás, já que depende dos equipamentos do Observatório para tratar sua saúde já debilitada.

Augustine viveu para o trabalho e para a ciência, mas não foi o suficiente para impedi-lo de presenciar a decadência da Terra. No observatório sozinho, lhe resta viver os dias que ainda têm e aproveitar para ver os dados de missões espaciais armazenadas no computador. E é olhando essas informações que parece encontrar um novo objetivo. Uma missão ainda ativa da espaçonave Aether lhe chamou atenção após analisar os tripulantes e objetivos da missão. Aether estava em uma missão de dois anos até a lua K-23 para observar o lugar e prepara-lo para que colonos saíssem da Terra para ir até lá. Sim, uma missão com um valor sentimental por alguns motivos. A lua habitável estava pronta para receber uma colônia espacial, a lua que ele descobriu e estudou durante tanto tempo. Um dos membros da tripulação também lhe chamava a atenção.

Assim, Augustine começa a tentar contato com a nave para que ela retorne a lua K-23, dando uma chance maior de sobrevivência aos tripulantes da nave. Dia após dia tenta contato sem sucesso, aparentemente sua antena não é forte o suficiente. Ao mesmo tempo, começa a perceber algo estranho, como um cereal em cima da mesa que não lembra de ter posto, ou a cozinha pegando fogo com ele dormindo. Estaria ele ficando com confusão mental? Bem, ao apagar o fogo da cozinha acha uma criança perdida, que não se comunica, ficando sem ao menos saber seu nome para tentar pedir seu resgate, afinal, um homem doente não é capaz de cuidar de uma criança. Porém, no decorrer do filme novos detalhes mostram uma outra face de Augustine.

Pelo trabalho, Augustine abriu mão de tudo, inclusive de um relacionamento com Jean Sullivan, que trabalhou com ele. Após uma suspeita de gravidez, ele se afastou dela, o que a levou a abrir mão dele. Aparentemente, as memorias de Augustine sobre Jean são de uma grande mulher e de arrependimento. Quando a viu depois de alguns anos do término, se quer conseguiu trocar mais do que algumas poucas frases, enquanto se questionava se a filha de Jean era a sua filha. Ele abriu mão de tudo, viveu pelo sonho profissional de descobrir um planeta habitável, de poder ajudar a humanidade a ter um plano de escape. Sacrificou tudo que pode na vida por seu objetivo! Será que havia arrependimento de sua parte? Será que precisava mesmo ter sacrificado tudo? Alguns de seus sacrifícios poderiam ter sido por medo ao invés de necessidade?

Deste modo, acompanhamos a jornada de Augustine tentando encarar seus fantasmas do passado ao mesmo tempo que vai até a Estação Meteorológica Lake Hazen para usar o satélite de lá para fazer contato com a nave Aether. Enquanto isso, a tripulação da nave, composta por 5 pessoas, estava em alerta. Não entendiam a falta de contato com a Terra, não sabia o que estava ocorrendo em solo, mas seguiam firmes no objetivo de retornar ao seu planeta. Algo parecia estranho, já que não tinham sinal de outra espaçonave com colonos que já deveria estar em órbita e não tinham comunicação com nenhuma base de comando. Voltar à Terra no escuro acarretava em enfrentar perigos desconhecidos, os quais poderiam não estar preparados. O objetivo da missão estava cumprido, muitos sacrifícios fizeram para estarem ali, as informações que estavam levando eram preciosas e alguns tinham família para quem voltar. Receber a mensagem de Augustine lhes daria uma oportunidade de escolha.

Na vida, temos oportunidade de traçar e repensar vários objetivos. Muitos deles para serem alcançados demandam de nós sacrifícios. Não basta traçarmos objetivos e metas e não pensarmos nas consequências que podem trazer para a nossa vida. Decidir sacrificar algo em prol de um objetivo é uma escolha que precisa ser pensada, levando em conta os prós e contras. Agir por impulsividade ou por medo, pode levar a consequências que irão permanecer em nossas cabeças o resto da nossa vida. E se tivesse sido de outro jeito? E se tivesse procurado outra alternativa? E se tentasse fazer as duas coisas ao mesmo tempo? Esses e outros “e se”s nunca terão uma resposta, pois não há como se mudar o passado. O que se pode fazer é agir com consciência no presente, para que os arrependimentos não nos sigam e nos atrapalhem, como se fossem uma espécie de fantasmas do passado.

É importante ter um objetivo, estando disposto e motivado para leva-lo adiante. Alguns sacrifícios podem ser necessários, levando a alguma recompensa futura que faça tudo valer a pena. A jornada de Augustine para se comunicar com Aether é cheia de sacrifícios e dificuldades, na esperança de ser capaz de ajudar alguém, um certo alguém. Ter as informações que Augustine queria passar daria aos membros da tripulação de Aether a oportunidade de analisar o cenário atual para fazer uma escolha consciente que também traria algum tipo de sacrifício. Ponderar e se atentar aos detalhes é um fator muito importante neste tipo de escolha. Conhecer as próprias prioridades e valores também é relevante para fazer uma escolha. Sendo importante também estar aberto a pensar sobre as segundas chances que a vida nos dá e saber quando é hora de repensar o que escolheu, caso a situação em que nos encontramos mude. Arrependimentos poderão existir sim, mas se a escolha for consciente a forma de lidar com eles pode ser bem menos sofrida.

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Sheila Francisca Machado reside em Brasília, é psicóloga clínica, especialista em psicologia clínica e especializada em avaliação psicológica, CRP 01/16880. Atende adolescentes e adultos na Clínica de Nutrição e Psicologia - CLINUP. Atua com a abordagem Análise do Comportamento.
Contato: sheila_machado_@hotmail.com
Clínica Clinupclinup.blogspot.com
Instagram@empqnasdoses

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