Foto: Netflix / Amor Garantido / Divulgação. |
Conhecer alguém não é fácil, não é à toa que tantas pessoas recorrem a aplicativos e sites de namoro para tentar encontrar alguém online. No filme “Amor Garantido” (2020) é nessa busca por encontrar um novo amor que Nick fez seu cadastro no site de relacionamentos Amor Garantido, que promete que você encontrará o amor em até mil encontros. Porém, após 986 encontros, Nick já não tem mais tantas esperanças e decide contratar a advogada Susan Whitaker para processar o site pela propagada enganosa.
A princípio, Susan fica com o pé atrás de aceitar o caso, já que parecia que ele apenas estava tirando proveito de uma brecha para ganhar dinheiro em cima da empresa dona do site. Mas, por ter poucos clientes pagantes e muitos clientes pro bono (pelo bem público, que geralmente são gratuitos ou a baixo custo), vê a oportunidade como uma forma de propaganda do próprio trabalho e de ter renda para sustentar seu escritório.
Incentivada pelos seus funcionários, Susan tem um perfil criado no site e vai a três encontros para fazer uma pesquisa para o caso, conhecendo como o site e os encontros funcionam. Além disso, entrevista algumas das mulheres com quem Nick saiu para saber se realmente aconteceram os encontros, como foram e se Nick de alguma forma estava dificultando que os encontros fossem bem.
Durante essa investigação para montar seu caso, Susan acabou descobrindo os desafios de se encontrar alguém em sites de relacionamento. Há pessoas que não são parecidas com suas fotos de perfil, gerando uma decepção quando vemos pessoalmente. Há também quem parece ser interessante no perfil, mas pessoalmente percebemos outros pontos que desfavorecem a manutenção do interesse no outro, como a conversa não desenvolver bem, o estilo de vida da pessoa ser diferente do nosso ou podem haver algumas manias que a outra pessoa tenha que são difíceis de tolerarmos.
Além disso, nos sites e aplicativos de relacionamento encontramos pessoas com vários objetivos: tem pessoas interessadas apenas em conversar, tem quem queira uma companhia momentânea ou apenas um único encontro, algo casual, e há até mesmo quem esteja por estar, chegando a marcar de encontrar e não apareça. Em contraponto, há quem procure um relacionamento sério, uma companhia interessante para manter contato, mesmo que não queira rotular a relação, ou está em busca de achar o amor de sua vida. Ou seja, há diversas posturas e expectativas ali, reunidas em um único lugar ao alcance de um dedo, e com uma variedade de opções e de informações preliminares maiores do que um ambiente presencial pode oferecer para se conhecer alguém.
Com a questão da pandemia e da necessidade de distanciamento social, a busca por encontrar pessoas nesses locais se tornou mais viável do que encontrar presencialmente em algum lugar. Acaba que a função desses aplicativos se tornou o recurso disponível mais fácil para conhecer gente nova. Contudo, continuamos esbarrando em algumas dificuldades que sempre existiram nessa forma de se conectar com novas pessoas.
Sem termos muitas “referências” sobre com quem estamos conversando, ficamos à mercê da fantasia que criamos sobre a pessoa com quem rolou o match. Será que o match vai virar uma conversa? Será que a conversa vai sair do aplicativo de relacionamento e ir para outra rede social? Será que vale a pena marcar de encontrar pessoalmente? Será que me exponho a algum risco em sair com essa pessoa? Dúvidas que são normais ao se fazer uso desses aplicativos e sites, e geram muitas expectativas, muitas sem condições de serem cumpridas.
Bem, aplicativos e sites de relacionamento são um meio, assim como vários outros que existem para se conhecer alguém. O importante é refletir sobre a questão que é levantada ao se levar o caso de Nick a julgamento, não há como se garantir que vamos achar o amor, não importa qual meio se utilize para conhecer alguém. O mais importante é estar aberto a conhecer, pois pode ser que em um desses aplicativos e sites você encontre a pessoa com quem você quer casar (como existem várias histórias por aí...), mas pode ser que você encontre seu interesse amoroso em outro lugar.
Além do mais, pode ser que você prefira um auto investimento e não um investimento no outro, optando pela solteirice. Quando se fala em amor, às vezes é mais importante pensar se você quer encontrar alguém ou se você está bem só. Afinal, procurar alguém por dependência emocional é preocupante e pode conduzir a relacionamentos pouco saudáveis. Por isso, é importante desenvolver autoconhecimento para saber escolher o que você quer e que tipo de pessoa você quer ao seu lado, caso decida que quer um relacionamento.
A jornada de Nick e Susan no filme nos mostra que não, não é possível garantir que uma pessoa vá encontrar o amor. E também nos mostra que os sites e aplicativos de relacionamento apenas reproduzem o que já se existia no mundo físico: haverá encontros bons e encontros ruins; pessoas que não querem nada com a gente; pessoas que vão querer estar com a gente, mas que não nos interessaram; ou que no primeiro encontro já percebemos que tem pensamentos muito diferentes dos nossos. O importante é saber o que se quer e ter paciência nessa busca. Vai que no próximo deslize do dedo não encontramos o que estamos procurando?
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Sheila Francisca Machado reside em Brasília, é psicóloga clínica, especialista em psicologia clínica e especializada em avaliação psicológica, CRP 01/16880. Atende adolescentes e adultos na Clínica de Nutrição e Psicologia - CLINUP. Atua com a abordagem Análise do Comportamento. Contato: sheila_machado_@hotmail.com Clínica Clinup: clinup.blogspot.com Instagram: @empqnasdoses |
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